"Você lembra quando seus pais contaram à você que o Papai Noel não existia? Grande choque, não? Pois então. Agora eu tomo a liberdade de dar uma de "anti-pai" e dizer: o Papai Noel existe."
"Então é Natal..." diz todo o ano a Simone.
Confesso à vocês que o clima do final de ano me agrada demais. Luzinhas piscantes, árvore de Natal, renas, "Jingle Bells", cigarras cantando na hora que o nasce e na hora que o sol se põe. Graças ao capitalismo, Natal eu também lembro da Coca-Cola.
E é tanto Papai Noel que tem por aí que provavelmente deve ter algum saindo pela sua bunda nesse exato momento. Ou entrando. Whatever. O Natal é uma época realmente muito feliz para a maioria, em razão das festas de final de ano. Natal e Ano Novo. Falaremos semana que vem sobre o Ano Novo. Hoje falarei sobre o Natal.
No Natal, comemoramos o nascimento dele. "O cara". O nascimento da Papai Noel? Não. Nascimento de Jesus Cristo. Existem muitos estudos que visam comprovar que o Cristo não nasceu no dia 25 de dezembro num estábulo, que Maria engravidou da maneira tradicional mesmo, que Jesus era negão, entre outras bisonhices.
Ultimamente tenho cagado e andado para esse papo "Código Da Vinci". O mais importante, de fato, é o verdadeiro significado do Natal. Comemorar simbolicamente o nascimento do Cristo, ou seja, o nascimento de uma nova palavra que ainda seria traduzida à língua dos homens, através de seus exemplos: a língua da caridade e do amor ao próximo e à Deus.
Por isso, que nessa data que se aproxima, que todos nós estejamos unidos de alma com todos nossos familiares e amigos na hora da ceia. Que vivamos e saibamos valorizar momentos e datas importantes como essa, tão simbólica e necessária ao equilíbrio da humanidade. Que o presente que você dá e que o presente que você recebe rePRESENTEM o amor recíproco. Que o presente material seja a materialização do sentimento imaterial. E que mesmo que você não ganhe presente, saiba reconhecer que a vida, a família e os amigos são os únicos e necessários presentes que precisamos para sermos felizes. Mas eu não vou criticar caso algum leitor queira me mandar um X Box ou um Playstation 3.
Após ter mencionado o verdadeiro significado do Natal, vamos falar sobre uma figura muito importante e muito presente no Natal - o Papai Noel.
Eu não estou muito afim de escrever sobre a história deste personagem ao longo dos tempos. O Google está aí pra isso. Mas quero ter uma conversa muito importante com você.
Você lembra quando seus pais contaram à você que o Papai Noel não existia? Grande choque, não? Pois então. Agora eu tomo a liberdade de dar uma de "anti-pai" e dizer: o Papai Noel existe.
E vou dizer à você o motivo pelo qual estou dizendo isso. Eu me lembro muito bem, no começo dos anos 90, uma tarde de final de ano na minha antiga escola. Era a famosa e aguardada hora do recreio, e entre mordidas no mistinho e goles no Nescau que tinha acabado de tirar da minha lancheira verde-limão da "Família Dinossauro", eu percebi que o papo do momento era "Acreditar ou não no Papai Noel: Eis a questão."
Em meio à esse momento "hamletiano", lembro do meu melhor amigo (que nessa época ainda não era meu melhor amigo), o Eric, defendendo com unhas e dentes o argumento que o Papai Noel não existia. Nessa época eu confesso à vocês que nem desconfiava de nada. O Papai Noel, para mim, era tão real quanto o fato do Chaves e do Chapolim serem brasileiros.
Lembro-me de me dirigir até ele, na frente de todos, dizendo que o Papai Noel existia. Ele resistiu, e contra-atacou, dizendo com ar de superioridade que inclusive ele NUNCA havia acreditado no Papai Noel, e que mesmo assim, sempre recebeu o presente anual de seus pais, em mãos.
Como eu fui e sou uma alma contestadora, desde sempre e para sempre, eu disse à ele algo do tipo: "Os pais assumem a responsabilidade de presentear a criança quando ela ou os pais não acreditam no Papai Noel." Ou seja, no meu raciocínio infantil, a partir do momento que você não acredita no Papai Noel, a responsabilidade de presentear é sua. Simples assim.
E fui feliz durante muitos anos, escrevendo cartas ao Papai Noel, e acordando na manhã mais feliz do ano, indo pegar meu tão esperado presente na árvore. No fundo, todo esse processo natalino era muito mais prazeroso e divertido do que o próprio presente em si. Era ritualístico. E cara, como isso era bom.
Comecei a desconfiar do Papai Noel quando ganhei dele um computador. O Super Nintendo, um ano antes, passou batido. Mas o computador não passou tão batido. Para mim, era estranho o fato dele ter mandado um técnico de uma loja trazer e instalar o computador aqui. Se fosse um duende, tudo bem. Mas um técnico? Nem orelhas grandes o cara tinha.
Desconfiei mais ainda quando ganhei a fita do "Mortal Kombat 3". Até o manual do jogo vinha em português, com certeza Português não é a língua-pátria do Pólo Norte. Seria necessário duendes programadores para as fitas, tradutores para os manuais...
O fato dele fazer todas as entregas em uma noite também não me soava mais fisicamente impossível. A explicação dos meus pais que "era possível por causa do fuso-horário" não me satisfazia mais. Um saco não parecia ser o suficiente para todos os presentes do mundo. Lembro de tentar calcular a média de casas visitadas no mundo, na velocidade da luz, média de crianças em cada país e etc. E mesmo assim, renas que viajam na velocidade da luz não são plausíveis. E mesmo se fossem, o Papai Noel morreria no trajeto. A verdade se aproximava. Até que então ela veio. E nem senti doer tanto, no fundo foi até um alívio. Mas o fato era um só. Da mesma forma que Nietzsche acabou matando Deus, a Dona Suely tinha acabado de matar o Papai Noel.
Sim, tristeza bateu. Muita. Afinal, por mais que se desconfie de algo, dói mesmo quando você confirma a hipótese. E no meu caso, foram dois coelhos numa cajadada só: Papai Noel e Coelho da Páscoa. Quer dizer, um coelho, literalmente. E um idoso obeso.
Mas o mais interessante de tudo é que desde esse dia, e até hoje, eu NUNCA me senti traído de alguma forma pelos meus pais. Eu fui feliz vivendo essa fantasia. Que de fantasia não tinha nada. Era a fantasia mais real de todas. Até hoje os agradeço por isso. Principalmente as crianças, almas em desenvolvimento, de coração tão puro, precisam viver essas fantasias. Isso faz bem, isso alegra a vida de qualquer criança. Toda aquela expectativa, todo aquele mistério e magia que envolvia todo o mês de dezembro. Escrever a carta, ir dormir com um sorriso no rosto e acordar com um sorriso maior ainda. Não há preço que pague tudo isso que vivi durante vários anos. Como foi importante pra minha infância viver essa fantasia real.
Por isso digo que meus filhos vão acreditar em Papai Noel. Mesmo com os "Garotos Podres" dizendo: "Papai Noel, filho da puta, rejeita os miseráveis, presenteia os ricos, cospe nos pobres..."
Infelizmente nesse mundo cão, ainda vai haver pobreza, violência e desigualdade social durante muito tempo. Então, que façamos nossa parte, orando e ajudando materialmente essas crianças que infelizmente, nessa encarnação, encontram-se numa situação de miséria e tristeza.
Mas que, mesmo diante de tanta miséria, você tenha a sensibilidade de dizer aos seus filhos que o Papai Noel existe, e que os faça viver essa fantasia como eu vivi, e como você talvez tenha vivido. Afinal, tudo que eu senti durante todos esses Natais foi real. E se foi real, ele realmente existe. Se ele existe dentro da gente, ele existe em qualquer lugar. Toda aquela expectativa, toda a alegria, todos os sorrisos e gargalhadas intermináveis à beira da árvore de Natal, enquanto eu e meu irmão rasgávamos euforicamente os embrulhos temáticos.
Campanha: "Papai Noel existe." Façamos isso pelas nossas crianças.
Um Feliz Natal à todos, de coração! E que passemos esse Natal felizes do mesmo jeito que o mundo ficou feliz na noite do nascimento daquele simpático menininho naquela manjedoura, banhado pela luz da Estrela-Guia e festejado naquele momento pelos homens e pelos amigos animais!
PS2.: Falando em presépio, você sabia que ele foi inventado por São Francisco de Assis? O motivo do presépio é não nos esquecermos, na noite de Natal, do momento que acabei de descrever acima.
PS.: Eu só fui DESCONFIAR que o Chaves não era brasileiro, em um episódio onde ele vende suco de tamarindo que tem gosto de laranja mas parece de limão. Nesse episódio, lemos claramente "Tienda del Chavo". Aí então comecei a investigação. Descobrir que o "Guarujá" do episódio era "Acapulco" fez meu mundo cair. Muito embora já conhecesse todas as praias do Guarujá, residia em mim a esperança de que aquela praia onde eles cantam "Boa noite vizinhança" fosse uma espécie de praia secreta ou particular. Vivendo e aprendendo.