Só sei que nada sei, mas ainda insisto em digitar...

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Cavalo Selado

"E ele não passa trotando não, ele passa à galope."


"Cavalo selado só passa uma vez".

Cuidado pra não perder a montaria.

Deixa eu te falar uma coisinha.

A Natureza segue um plano. E tu faz parte desse plano, dessa Natureza.

Tu tem o teu plano, e Deus tem o dele. O teu plano nem teu é, o teu plano é do Diabo. 

Porque se tu não fecha com Deus, tu fecha com o Diabo, querendo ou não.

É assim e pronto.

E cala a boca se tu quiser me escutar.

Se tu não quiser, tudo bem.

Tu pare de me ler desde já, e quem sabe te vejo numa próxima.

Mas agora, você.

Você que ficou, presta atenção no que eu vou te falar.

Você, meu amigo.

Você, minha amiga.

Você, ser humano, que eu quero tão bem!

Não seguir o plano do Divino é não se harmonizar.  

Filho birrento se joga, faz birra, e Deus é aquele pai que só olha. E o filho mete o dedo na tomada. E ele fala "nãããão!" uma, duas vezes, três vezes.

Uma hora vem o choque, o choque vibratório. O choque de si mesmo, da desordem.

E se alguém devesse te encontrar, num desses momentos de desencontro contigo mesmo?

E se alguém devesse te amar, enquanto você se odeia, ou age como você se odiasse?

E se alguém devesse te olhar, num desses teus momentos de cegueira?

É, né. Olha o cavalo passando selado aí.

E ele não passa trotando não, ele passa a galope.

Tira o dedo da tomada e chega de tomar choque.  

Como quer paz, se vive em guerra contigo mesmo, em guerra com os outros?

Como quer sempre viver melhor, se vive bem mal sempre?

Como quer conhecer um anjo, se portando como um demônio nos inferninhos da vida?    
  
Como quer casar na igreja, se o teu coração mora na zona?  
                                       
Como quer ser alguém melhor, se tu é sempre alguém pior?

Como querer alguém, se tu ainda é ninguém?

No Universo nada passa batido não. É Lei do Retorno, minha gente.

Mas calma.

Respira fundo, olha em volta.

Desacelera.

Se organiza por dentro, que a vida se organiza por fora.      
                                   
É como eu já ia dizendo, sabe?

"Cavalo selado só passa uma vez."

Cuidado pra não ser atropelado.

Boa noite.

sábado, 15 de setembro de 2012

Só sei que assombrarei.

"Os reflexos precisam ser embelezados. As sombras precisam ser educadas."



Vamos ao banheiro diariamente. Fazemos tudo aquilo que os seres humanos ainda insistem em fazer - urinar, defecar - e após lavarmos as mãos (pois nosso senso de higiene pessoal é impecável) nos assustamos com algo. Com um vulto. O coração disparado, os pêlos do corpo agora congelado arrepiam-se todos. As pernas parecem dobrar, mas nesse exato momento você já está se dando conta que o que te assustou foi um vulto que seu próprio reflexo no espelho ocasionou. Você sorri um tanto envergonhado, ainda com o coração apertado, e seu dia segue normal.

Situações assim também ocorrem com nosso reflexo em janelas, com nossas próprias sombras projetadas à meia-luz nos corredores, normalmente da nossa própria casa. Todos já passaram por momentos assim, creio eu. 

Mas momentos vão e vêm. Reflexões vão e vêm também, mas quando contundentes, reflexões vêm e ficam. Vamos refletir sobre isso. Vamos refletir da mesma maneira que os espelhos dos banheiros da vida, ou dos corredores, refletem nosso vulto imprevidente.

Parece ridículo que as pessoas se assustem com elas mesmas. Parece, mas não é. Quantas vezes nos arrependemos de coisas que dissemos, que fizemos? Nos arrependemos amargamente de tanta coisa! 

Talvez se houvesse um espelho refletindo nossos piores momentos, e nos assistíssemos "durante o durante" de tais piores momentos, tenho quase certeza que pararíamos de sopetão, e não levaríamos a cabo os tais momentos. Salvos pelo espelho. 

Talvez se houvesse uma luz amiga projetando contra uma parede as sombras demoníacas, sombras essas que emanam dos demônios que nós próprios ainda insistimos em nos tornar por tantas vezes, tenho certeza que esse show de sombras macabro seria encerrado no ato pelo infeliz ator que o protagonizava. Salvos pela luz. 

As sombras que projetamos e os reflexos que enxergamos mais parecem E PODEM, E DEVEM ser interpretados como um sinal do próprio Universo. Do tipo, "estou de olho em você!", as próprias leis da Física refletindo como um filme nossos melhores e piores momentos.

Os reflexos precisam ser embelezados. As sombras precisam ser educadas. E isso depende de apenas uma pessoa. O refletido. O iluminado. Pois sim, sombras apenas existem pois alguém insiste em iluminá-las incessantemente. Sem medo delas. Luz essa que é infinita, cujo raio tem precisão matemática e metafísica. E se a luz não teme as sombras ou reflexos assustadores no espalho, é pois talvez enxergue além das sombras. "Além do espelho", como já dizia o poeta que não faz samba só porque prefere. 

Pena que o espelho da consciência de cada um encontre-se quase sempre tão sujo e embaçado, e que a luz presente nas almas imortais dos homens estejam quase sempre ofuscadas ou momentaneamente apagadas pelos infernos artificiais e transitórios do planeta Terra. Infernos esses que são seu próprio país, cidade. Às vezes são até a sua própria casa. A casa, ou as pessoas. Vai saber. Não sei do inferno de vocês, sei apenas do meu próprio.

Assim como também sei do meu próprio paraíso artificial. Somos o Deus do nosso mundo. Dos NOSSOS mundos. E das pessoas que vivem nele (neles) junto conosco.

Por isso, perante os espelhos da vida, muita atenção com o seu próprio reflexo. Muito cuidado com as sombras que você mesmo projeta nos corredores à meia-luz de sua existência

Assustar-se consigo mesmo é um dos primeiros passos para atitudes mais prudentes, elegantes e responsáveis perante os corredores, espelhos e janelas da vida. Agora, chorar perante as próprias obras é simplesmente opcional.

Reflexo de monstro é monstruosidade. A Medusa que o diga.

Até o próximo susto!

Texto escrito em Nova Iorque em 15 de setembro de 2012.

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Só sei que contextualizei. - "O mundo precisa de mais romantismo, caralho!"

"Poetas gozam e choram como ninguém."



Dizem que "contexto" é a relação entre o texto e a situação em que ele ocorre dentro do texto. É o conjunto de circunstâncias em que se produz a mensagem que se deseja emitir - lugar e tempo, cultura do emissor e do receptor, etc. - e que permitem sua correta compreensão.

Mas essa definição meramente textual não me agrada, acho que é preciso transpô-la. Pois eu vejo tudo de uma forma muito simples: textos são palavras. Palavras são idéias. Idéias são a própria vida. 

Vivemos as idéias. Tanto apenas no plano mental (apenas sentindo as idéias, que nos causam emoções variadas), quanto no plano físico mesmo (idéias que se tornam atitudes no mundo material). Tanto atitudes físicas propriamente ditas (um beijo, um abraço), ou apenas a exteriorização física e materialização dessas idéias através da escrita (o ato de se escrever um texto, ou uma poesia).

Ou seja, VIVEMOS idéias. Respiramos, sofremos e sorrimos idéias.

E já que a própria vida em si é um texto metafísico, um texto ambulante sendo escrito pela mente de cada um, há de se falar em contexto. Ora, como não? 

Devemos analisar todas as idéias (as nossas e as dos outros) e todas as eventuais situações que nasçam dessas eventuais idéias sempre contextualmente.

Tudo é simbólico. Tudo há de ser contextualizado.

A vida é mais bonita com os símbolos. Pois os símbolos e o próprio contexto de tudo enobrecem a experiência humana. Torna tudo mais bonito, mais charmoso. Mais verdadeiro. Mais profundo. Seja essa intensidade para bem, ou para mal.

Aquele que vive a vida com sensibilidade o suficiente para ver e viver os contextos situacionais mil que a experiência humana nos proporciona e que nós mesmos nos permitimos (ou não) viver é um abençoado e um amaldiçoado ao mesmo tempo.

A alegria e o sorriso de um artista é muito mais sincero do que o de uma pessoa dita "normal". Pois tudo tem contexto. Vive-se a situação E o contexto. Alegria ou sofrimento em dobro. 

Poetas gozam e choram como ninguém.



Pois um contexto "X" torna uma situação "Y" diferente. Mais intensa. Como eu disse, mais intensa para bem ou para mal. Aí vai depender de quem você é, com quem e aonde você anda e o que você e as pessoas andam fazendo por aí na sua vida.

Viver com intensidade não é fácil, pois a vida em si é uma montanha-russa. E só é uma montanha-russa por dois motivos: ou assim o deixamos ser (por que GOSTAMOS de emoções fortes, boas ou ruins) ou simplesmente somos desgovernados pois somos ainda somos incompetentes como pessoas. 

Ou comemos merda por acidente, ou comemos porque nos acostumamos a comer merda. E o filé mignon metafórico custa caro, não? Então come-se merda e dá risada, na zona de (des)conforto que nós mesmos criamos. Tal qual uma hiena.

Como eu ia dizendo, tudo é contexto. Eu vou dar o meu próprio exemplo. Eu acordando de madrugada aqui com vontade de escrever. Eu poderia ver isso de duas maneiras. 

MANEIRA 1 (SEM CONTEXTO) - Acordei pra cagar e mijar, tomei um copo d´água, e como fui dormir cedo ontem e como tenho uma tendência e uma certa facilidade para escrever as coisas, sentei aqui e escrevi um texto sobre certas coisas que já pensei sobre, e que pensando bem, não são tão novidade assim, nem para mim, nem para ninguém.

MANEIRA 2 (COM CONTEXTO) - Acordar para cagar e mijar e tomar um copo d´água na verdade foi a maneira de minha mente acordar o meu corpo. Meu próprio corpo me acordou, pois minha mente assim o quis. Ela tem tantas coisas para colocar para fora que teve que me acordar. O quê será que ela quer me dizer? Vamos esfregar os olhos e pensar. Bom,  tenho vivido as coisas com tanta intensidade ultimamente. Sempre refletindo, sempre refletindo. Principalmente nos contextos. Ora, afinal, acordar e querer escrever assim de madrugada, é completamente simbólico, contextual. É romântico, cara. Vou começar a escrever sobre isso e ver no que vai dar: "Dizem que contexto..." 

E aí foi. E cá estamos. Se não fosse eu reparar no "contexto" de acordar de madrugada para escrever, esse texto não teria saído. Esse texto só começou a ser escrito pois refleti acerca da palavra "contexto". Aí sentei aqui para ver no que ia dar.

Chega de sermos mecânicos, que mania do ser-humano! Não podemos fazer as coisas maquinalmente mesmo, não somos máquinas! E nem fazer as coisas apenas por instinto, pois não somos bichos! Somos algo ENTRE um bicho e uma máquina. Pois nosso cérebro é um verdadeiro computador. Mas não somos robôs. Somos de carne, comemos, mijamos, cagamos e trepamos. Mas também não somos bichos. Por isso o ser-humano está sempre em crise. Vive em busca de modelos (animais ou máquinas), quando na verdade deveria saber que ele próprio deveria ser seu próprio modelo. Deveria aceitar sua condição humana, conhecer-se, explorá-la e aprender lidar com a maneira certa. Somos criaturas específicas demais nesse Universo, cara. Por maior que essa porra desse Universo seja, NÓS SOMOS SERES MUITO ESPECÍFICOS. Não devemos fazer alarde disso, mas também devemos saber valorizar isso. Se o  Cosmos, em toda sua grandeza e sabedoria desconhecida resolveu nos criar ASSIM, devemos nos sentir abençoados, e não amaldiçoados por isso. E por mais que isso nos assombre ás vezes, devemos procurar a luz denovo. Somos que nem o próprio dia: a gente sempre acaba anoitecendo, por dentro e por fora. Mas o sol nasce pra todos, e só vive no escuro (se escondendo nas sombras do mundo, ou nas sombras de si próprio) quem é. Direito de cada um. Opção de cada um. Livre-arbítrio conduz ao Céu e ao Inferno. À terra fértil, ou ao abismo. Pois sim, a madrugada é sempre mais escura antes do amanhecer. Mas de que adianta o dia amanhecer, se toda vez que ele amanhecer você insistir em procurar trevas artificiais (internas ou externas) para se esconder, e nelas espreitar, apenas esperando o próximo anoitecer?

Nossa melhor metáfora de ser-humano é aquele homem de lata, que só queria ter um coração. Um robô que só quer amar. Mas se analise, caralho! Somos um robô de carne, nós JÁ TEMOS UM CORAÇÃO. Basta aprender a valorizá-lo, respeitá-lo e "usá-lo" da maneira certa. Da maneira metafórica mesmo, mais romântica. Não apenas vê-lo como um bombeador de sangue. Mas um bombeador de vida, um bombeador de amor.



O mundo precisa de mais romantismo, caralho! Não de mais caralho. De mais romantismo, (VÍRGULA) caralho!

E isso é tão lindo (não o caralho, o fato do mundo precisar de mais romantismo e de mais contexto) que eu precisei acordar de madrugada para eternizar o contexto com texto.

Não é que o mundo precise de mais romantismo, o mundo tá aí. As coisas acontecem. As pessoas interagem, e bom, as coisas acontecem. A responsabilidade de enxergar as coisas como DEVEM ser enxergadas (pois como a raposa disse ao menininho, "O essencial é invisível aos olhos) é completamente nossa. Ou seja, o mundo precisa de mais romantismo. O mundo já é romântico por si só. Basta que a gente se disponha a flertar com o mundo. Dançar o canto dos passarinhos e bailar com a vida. Bailar com as pessoas. Cantar com as pessoas de madrugada. Andar de mãos dadas quando sentirmos vontade. Dar e receber colo. Olhar o mar. Sentir o vento frio de uma manhã ensolarada de inverno, e se aninhar em alguém. Deixar alguém se aninhar em você. Sentir que o tempo passou tão rápido que o "amanhã" de "ontem" já era na verdade o "hoje". E beijar esse alguém nesse "hoje-amanhã" como se não houvesse um outro amanhã. Ao ponto do vento da praia fazer você comer areia e cabelos durante o beijo todo - e você simplesmente não estar nem aí.

Tudo isso é contexto. E quem tem contexto, quem vive contexto, simplesmente dá um jeito. Faz questão de dar um jeito. Pois dar um jeito, também é contexto.

E existe uma grande diferença aí, não? E a gente simplesmente sente. Simplesmente sabe, e às vezes não sabe nem explicar.

Mas isso é coisa de gente grande, cara. Por mais que esse amor entre duas pessoas seja "esteticamente vadio" às vezes, talvez pela forma que ela se move em cima de você e a forma como ela geme e te morde, ou pela contundência até animalesca que ele tenha em cima de você numa cama, te agarrando com propriedade, eu repito - tem amor  (e muito amor) aí. É sincero pra caralho. Afinal, vadiagem mútua e sincera é simplesmente poesia. Vadiagem em forma, nunca em essência.

Mas como eu disse, isso é coisa de gente grande. Para os iniciados. Para que tem, dá e vive o contexto. Corpo e alma, saca?

É,  pessoal. O mundo e a vida flertam com a gente todo santo dia e a gente nem percebe.

E quer saber? São 05h14 da manhã. Hoje vou me dar o direito de ver o nascer do Sol. Um nascer do Sol . Isso tem um contexto absurdo e é simbólico pra caralho pra mim hoje. Deveria ser isso pra mim todo dia. E pra vocês também.



Bom dia à todos. Cheio de contextos. E que teus contextos sejam maravilhosos.

Hoje, e sempre.

PS.: Só não vão ficar de palhaçada e querer começar a contextualizar merda. Ninguém aqui é criança, todo mundo aqui sabe o que é merda e o que não é. Então por favor não comecem esses perigosos processos de auto-sabotagem querendo ver beleza contextual onde não há e de querer glamourizar o que não se deve. Merda é merda e ponto. Simples assim. Poupem a si mesmos e me poupem de uma presepada dessas, por favor.

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Só sei que viajarei.

"Um aviso à esses jovens, que têm cagado pela boca ao falar do filme ou do livro: Não importa quanta maconha vocês fumem, quanto uísque vocês bebam ou quanta benzedrina vocês usem - vocês nunca serão tão legais quanto esses caras foram."



Eu fui assistir "Na Estrada", que é o filme baseado no livro de Jack Kerouac. O marco inicial na "geração beat" ou "beatnik", como eles mesmos se intitulavam.

Eu não li a obra de Kerouac até agora, mas vou ler. De preferência em inglês. Cara, ao longo do tempo eu simplesmente parei de confiar em traduções. Aprendi isso na escola de Filosofia, e existe até uma cena no filme onde um personagem interpretado pelo Aragorn (Viggo Mortensen) alerta o jovem Sal Paradise sobre os perigos da tradução, e é uma cena muito boa.

Bom, o filme é muito bom, apesar de um pouco cansativo. São duas horas e lá vai caralhada de filme. Mas vale muito a pena assistir.



Sabe, eu fiz o meu colegial em escola pública. Ou seja, não aprendi porra nenhuma sobre a Literatura Brasileira, muito menos sobre Literatura Mundial. Fui conhecer os clássicos depois de formado. Mas confesso que conheci os beatniks apenas bem recentemente.

É bem interessante mergulhar naqueles Estados Unidos pelos idos de 1948, e tentar pensar como um jovem daquela época pensaria. Era o pós-II Guerra Mundial, e o mundo estava todo torto. Fisicamente e culturalmente. Eu vejo a vivência e as experiências vividas e criadas por esses jovens porra louca e inconsequentes (como Dean Moriarty ou a Marylou) como um grito de liberdade não apenas individual, mas um grito de liberdade em nome de uma sociedade. 

Uma sociedade que estava toda fodida, seja pelos resquícios da Guerra, seja pelos próprios tabus conservacionistas que a sociedade ainda insiste em ostentar como um pilar, quando na verdade vejo isso como um câncer, um tumor no meio da cara da sociedade.

Esses caras encheram a cara de álcool e drogas de todos os tipos. Uísque, maconha, anfetaminas, suor, saliva e fluídos vaginais de adolescentes americanas brancas, negras e de prostitutas mexicanas. Os homens E as mulheres. Respiraram tudo o que havia de mais tóxico, pois o que era "saudável" segundo a própria sociedade simplesmente sufocava e ainda sufoca almas como aquelas. Entorpeciam-se numa tentativa desesperada de ao menos tentarem raciocinar de forma mais clara em meio àquele caos social.



Uma cena em que Dean narra à Sal como ele viu uma jovem virgem branca americana e completamente "sugar aquela beleza de ébano de um jovem negro, e também a buceta peluda de uma jovem negra" é simplesmente a metáfora perfeita em busca de liberdade do jeito mais selvagem. Pois todos sabemos que na década de 40 era inaceitável que brancos e negros se misturassem, ainda mais os mais jovens. A jovem branca chapada que faz um boquete em um negro, e ainda cai de boca em sua amiga negra, é o CÚMULO do libertarismo (para aquele ser em específico, naquela época em específico). Cresceu ouvindo que deveria casar virgem, que mulheres não deveriam beber, que os negros não prestam, que não eram gente como a gente, e BANG!, a princesa virgem americana me vai lá completamente chapada e paga um boquete pro negão. Isso é poético, cara. É o tiro que sai pela culatra na cara da sociedade. Para não dizer outra coisa. 

Esse senso de liberdade, selvagem, é guiado e norteado pelos prazeres básicos, fisicos e psicológicos. Seja o prazer sexual, ou o prazer criado em nosso cérebro quando estimulados por uma droga qualquer. Esses jovens tinham tudo isso, eram bombas-relógio humana. E eles "explodiam, explodiam e explodiam como fogos de artífico no céu à noite."



E é incrível como o caos-químico-individual, em meio ao caos natural das coisas, pode simplesmente trazer momentos de sobriedade para certas pessoas. Ou senão isso, que todo esse caos químico transitório resulte em alguma ordem inexorável mais pra frente. É como se você aprendesse a dominar o caos de si mesmo primeiro, para depois tentar dominar o caos das coisas, o caos das pessoas, o caos do mundo. 

Eu não sei até que ponto estou viajando aqui, mas uma coisa afirmo à vocês: eu vejo jovens assistindo a geração beat de antigamente.

Não são jovens interessantes, reprimidos e pensadores como os jovens de outrora: são apenas jovens. Na pior acepção da palavra. 

São jovens babacas, criados pela avó, que aprenderam a fumar maconha ruim em seus colégios particulares com treze anos e a cheirar Pó Royal com quatorze. São meninos que tomam anabolizantes desde os dezesseis anos, e que vão à festas raves que duram dois dias e saem felizes (trincados) das mesmas sem terem comido ninguém. São meninas que perderam a virgindade com um merda qualquer cedo demais, e agora tiram a roupa em praça pública em nome de qualquer causa política de merda.



A questão é que jovens assim têm assistido o filme como uma ode ao hedonismo, pois afinal, essa é a rotina que eles próprios vivem. É simplesmente não conseguir entender que uma suruba era praticamente um ritual, ou um ato político. Tinha significado de alma. Eram espíritos livres em busca de viver e pensar. E não me dou ao direito de julgá-los pelo fato de que, para que essa libertação ocorresse de fato, precisavam fumar maconha, beber uísque pra caralho ou tomar benzedrina como se fosse sobremesa.

Prestando atenção na história, não absorvemos apenas putaria e jazz (e jazz DO BOM). Absorvemos processos de libertação. Absorvemos que a liberdade pode custar caro, e que você precisa aprender a lidar com ela, uma vez que a adquiriu em um processo de libertação qualquer. E os personagens lidam com isso, e assumem as consequências.

Diferente da juventude que vê apenas uma história hedonista e vazia de putaria, vagabundagem e drogadição. Os meios podem ser parecidos, mas não os fins. Esses caras tinham um fim específico, que talvez nem eles mesmos soubessem. Eles estavam lutando por algo. Diferente de vocês. Pois vocês apenas banalizam a liberdade que já têm desde o berço.

Até onde eu me lembro, Sal Paradise caía pra dentro da putaria e completamente chapado. Mas colheu algodão de sol-a-sol e carregou sacos de açúcar no lombo feito um animal. Entendem o que eu quero dizer? Se entendem, ótimo. Se não entendem, espero que um dia entendam. Mas bem longe de mim.



Um aviso à esses jovens, que têm cagado pela boca ao falar do filme ou do livro: Não importa quanta maconha vocês fumem, quanto uísque vocês bebam ou quanta benzedrina vocês usem - vocês nunca serão tão legais quanto esses caras foram.

E em breve, é minha vez de cair na estrada. 

Boa sorte pra mim.

Beijos à todos.

domingo, 3 de junho de 2012

Só sei que me inspirei.



O ser-humano tem um "quê" de desumanidade. A própria experiência humana em si, tem algo de desumana. Pois ser humano, meus amigos, é tarefa sobre-humana.

terça-feira, 10 de abril de 2012

Só sei que discordei.

"A racionalidade que estagna é uma forma de irracionalidade opcional. É pensar de tudo para simplesmente não pensar em nada. Uma das formas da tal auto-sabotagem, creio eu."

Quase nunca existe alguém para dar uma palavra de apoio, ou alguém para, no mínimo, trocarmos alguma idéia edificante sobre uma coisa edificante qualquer. Mas sempre tem alguém para dizer que: "O MUNDO ESTÁ PERDIDO".



"O mundo está perdido." Será? Eu não sou o rei da astrofísica, mas me parece que a Terra, dadas as devidas proporções, permanece no seu lugarzinho há não sei quantos bilhões, ou trilhões, de anos. Desnecessário é eu acessar o Wikipédia e discutirmos agora essa questão em particular.

Aí o sujeito disso que "o mundo está perdido". E é claro que nas rodas (quase sempre ridículas) de discussões (quase sempre igualmente ridículas) que frequentamos, sempre haverá também alguém para contra-argumentar, com ares de pseudo-sabedoria, esta triste sentença, dizendo que "não, o mundo não está perdido. AS PESSOAS ESTÃO PERDIDAS."



"As pessoas estão perdidas." Será? Eu não sou o rei da sociologia, mas me parece que na Terra, dadas as devidas proporções, as pessoas têm tido acesso à todo tipo de cultura e contra-cultura há não sei quantos séculos. E digo apenas séculos pois seria cruel exigir cultura do homem desde que começou a lidar com a racionalidade. Mas alguns séculos já dão pro gasto, não é verdade? Ainda mais atualmente, na era da Internet. O ser humano atualmente tem acesso a praticamente TODO tipo de cultura, em questão de cliques. A grande sabedoria dos grandes mestres da humanidade nos quatro cantos do mundo através dos milênios, de todos os filósofos de todas as vertentes está AQUI. Ou no mínimo, estará o método, ou meio, para que tal sabedoria seja acessada.

Goethe tem uma frase que é mais ou menos assim: "As grandes verdades do mundo já foram ditas. Nos basta agora vivê-las".

A primeira vez que ouvi isso, foi pra nunca mais sair. Pois é realmente uma grande verdade. As pessoas vivem entrando em grandes questionamentos acerca de tudo. E me parece que quanto mais inteligente é a pessoa, de forma mais imbecil ela acaba agindo, na maioria das vezes. Pois quando a pessoa é inteligente, sua mente obviamente dispões de mais mecanismos para articular pensamentos. Se essa pessoa é orgulhosa e acomodada (e quem de nós não é?), sua mente será capaz de maquinar os maiores e mais ridículos pseudo-dramas e crises existenciais, estagnando a pessoa no seu próprio joguete mortal de dúvidas cujas respostas, no fundo, ela sabe. Hoje em dia só não tem uma diretriz moral de boa qualidade quem não quer. Sem falar que nem precisamos muito buscar e investigar acerca das direções morais, pois os próprios conceitos éticos e morais são conceitos que são meio que intrínsecos à nossa existência e condição humana. A tal da consciência. E não adianta vir me dizer que a "pessoa se perdeu por opção", pois o mapa está dentro da cabeça dela própria. Então favor não confundir "estagnação opcional" com "perdição" ou "perdimento".

Pois a nossa existência é simples demais. Sabemos exatamente o que nos atrasa, e o que nos projeta para frente. Não somos os tais "animais racionais"? Então. A racionalidade que estagna é uma forma de irracionalidade opcional. É pensar de tudo para simplesmente não pensar em nada. Uma das formas da tal auto-sabotagem, creio eu.

Se eu disse à vocês que o mundo não está perdido, nem as pessoas estão perdidas, ainda poderá alguém e dizer que "mas se todas as verdades do mundo já foram ditas, as pessoas talvez não estejam sabendo vivê-las pois ESTÁ LHES FALTANDO A DEVIDA CAPACIDADE DE INTERPRETAÇÃO DOS TEXTOS QUE CONTÉM AS GRANDES VERDADES DA VIDA."



"As pessoas não têm tido a capacidade interpretativa devida de certos textos." Será? Olha, meu amigo. Se você olhar bem, os "códigos de conduta moral" (vamos chamar assim as verdades que foram ditas e escritas por muitos ao longo dos tempos) estão aí faz muito tempo. Há não sei quanto tempo atrás, os "Dez Mandamentos" de Moisés diziam coisas como "Não matarás". A humanidade daquele tempo era muito mais desumana naquela época. E desumana não por opção (talvez de poucos), mas desumana no sentido de animalidade latente que aquela "humanidade" ainda lidava, eram os primórdios, afinal. O homem, que é um ser extremamente complexo, estava ainda em período de formação moral. Mas até esse homem-animal (e não por opção, como os homens-animais de hoje em dia) conseguia interpretar o "Não matarás".

Assim como os atenienses interpretaram muito bem o que Sócrates queria dizer. Assim como os próprios fariseus interpretaram, e até demais (no mau sentido) o que Jesus disse. Se eles não concordaram e não quiseram viver, de fato, aqueles ensinamentos que a sua própria racionalidade soube interpretar, aí é outra história. Pois "interpretação" não é pressuposto para "concordância". E até a própria "concordância" não é pressuposto para "vivência" ou "aplicação".

Pois somos capazes de interpretar algo, mas não somos obrigados a concordar com nada que nossa racionalidade foi capaz de interpretar. E supondo que interpretamos, e concordamos com um raciocínio ou ensinamento qualquer, não somos obrigados a vivê-lo, minimamente ou em plenitude. Nosso livre arbítrio nos permite concordar com algo, mas simplesmente não viver esse algo.

Aí pergunto: "No que se baseia seu livre arbítrio?"

Pois é como eu disse um pouco mais acima. Se a humanidade desde os primórdios soube interpretar verdades tão básicas, porque a nossa humanidade hoje em dia não seria capaz de interpretar essas mesmas verdades tão básicas, tão simples e de acesso tão fácil?

Ora, isso seria ilógico. É claro que a nossa geração é capaz de interpretar o simples, e até o complexo. Basta querer. E "querer" ou "não-querer" é sempre decorrência da faculdade que citei há pouco: livre-arbítrio.

Então, repergunto: "No que se baseia o seu livre-arbítrio?"

Aliás: "No que se baseia a sua existência? E aonde isto já te levou? Aonde você se encontra agora? E aonde esta tua realidade de agora vai te levar?" 

Não precisa me responder. Responda à si mesmo. Mas não tente enganar a si mesmo. Não mais. Seja sincero contigo mesmo. Chega de palhaçada, pois eu sei que você é uma pessoa muito inteligente e não aguenta mais essa sua situação, independente dos momentos de fuga que você ainda insista em criar para si mesmo. E uma vez constatada a situação humanamente precária que você se encontra (e digo "humanamente precária" pois estou me podando, tentando escrever menos palavrão), eu rezo aos deuses para que você tome vergonha nessa sua cara e realize tudo o que você tem que realizar nessa vida, e nas outras, de vez. E sem olhar para trás. Pois se olhar pra trás...

Bom, aí você já sabe o final. O final triste e desesperador, que conduz ao fatigante e esperançoso recomeço. E assim sucessivamente.

Não, o mundo não está perdido. Nunca esteve. Você que é um filho da puta. E porquê quer.

Acorda pra vida! Antes que a vida te acorde pra morte.

Paz à todos.

quarta-feira, 7 de março de 2012

Só sei que mudarei.

"Lide com isso, e bem-vindo ao meu mundo."



A mudança só inicia-se, de fato, a partir do momento em que o homem reconhece que não vive apenas sob as vistas dos próprios homens, esses seres tão iguais a ele, companheiros viventes dessas três dimensões que assimilamos aos menos em nível consciente (pelo menos a maioria) . 

O verdadeiro ponto de partida para aquele que deseja sinceramente iniciar o processo personalíssimo da mudança, que o conduz sempre para o alto, para a luz, esse ponto é aquele momento na vida desse ser onde ele simplesmente se deu conta que nunca, mas NUNCA mais estará plenamente sozinho, em nenhum lugar desse mundo ou dos outros, e em nenhuma situação. Nunca mais. 

E não, não falo de sua própria consciência, que inexoravelmente o acompanhará seja no céu dos eleitos, ou nos infernos artificiais em que ele insiste em construir ou em viver. Falo de consciências terceiras, que auxiliam, atrapalham, julgam ou fiscalizam - chame de deuses, espíritos, anjos ou demônios, pouco me importa a nomenclatura que dêem a eles. Mas que eles estão em toda parte, AH, MEU AMIGO!, eles estão! Sempre estiveram, e para sempre estarão, independente da faixa em que seu pensamento esteja sintonizado. Cabe única e exclusivamente a VOCÊ se deixar levar pela influência desses seres tão conscientes e tão atuantes (ou mais) nessas dimensões quanto nós próprios, para bem ou para mal. E eles vão te salvar. Ou vão cortar tuas asinhas rapidinho, provando à você que você realmente não é NADA, nem nessa vida ou na outra. Talvez eles possam até te desgraçar. Como eu disse, vai depender apenas de você pautar as tuas atitudes, sabendo disso tudo. E buscando sempre tomar a atitude mais elegante possível, seja com os outros, e seja com você próprio. Lide com isso, e bem-vindo ao meu mundo. 

Quer dizer, ao NOSSO verdadeiro mundo. O mundo onde começamos a lidar com a verdade, mesmo ainda assombrado pelo espectro das mentiras. As mentiras dos outros, e as nossas próprias. Paz à todos. Luz à todos. E até trevas e sombras talvez eu te deseje - desde que esse teu caminho tão sombrio te conduza forçosamente aos cintilantes caminhos das imutáveis verdades universais.