Só sei que nada sei, mas ainda insisto em digitar...

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Só sei que agradeci. - Ensaio sobre o agradecimento.

"E pensando sobre esse negócio todo de agradecimento, me lembro de quando eu era criança. Naquela época, eu era obrigado a dizer "obrigado". Hoje em dia, homem feito (talvez um menino num corpo de homem), digo "obrigado" sem ser obrigado."

Faixinha de rolê no Gonzaga. Nesse dia não chovia.


Sei que disse que não ia postar mais nada até o final do ano, tendo em vista que ando muito atribulado com questões acadêmicas, mas às vezes escrevo de forma tão natural, e igualmente tão necessária, que me parece uma espécie de psicografia consciente. Talvez psicografe alguns conselhos ditados por espíritos amigos, em alguns trechos de alguns textos. Ou inimigos.

Talvez psicografe meu próprio espírito sufocado pelo constante turbilhão hormonal e emocional a que sou sujeito a cada milésimo de segundo, como se meu corpo e mente constantemente subjugassem meu tão pobre (e inconscientemente rico) espírito.

Sim, quem me lê sabe que sempre que posso escrevo sobre um lado humano mais sórdido e sombrio. Um lado mais podre. E não digo nem que é um lado "animal", pois os ditos "animais" são seres irracionais. Esse lado que me refiro é um lado pior que o animal, pois somos dotados da chamada racionalidade. E quando agimos de uma forma às vezes até monstruosa, optamos pura e simplesmente pela falta ou ausência momentânea da capacidade de raciocinar.

Tenho meus espíritos obssessores, e às vezes escuto e sinto a presença deles. Infelizmente, às vezes, ele me mostram um lado muito triste e escuro da vida, da existência humana. Mas também tenho meus espíritos amigos. Espíritos de guarda. Anjo da guarda. Chame como você quiser. O importante, é que esses amigos me mostram o lado bom da vida. O lado da luz. Seja num Sábado, ou numa Segunda-feira chuvosa.

O relógio marcava exatas 7h15 da manhã, e eu tinha acabado de me vestir após tomar um delicioso banho quente. Eu estava comendo pizza no café da manhã, pois haviam sobrado alguns pedaços da noite anterior. Após empanturrar com fino azeite de oliva os fartos pedaços de pizza, cujo queijo ainda borbulhava na travessa quente que havia acabado de sair do forno, liguei a televisão, já sentado confortavelmente acomodado para o café-da-manhã. E assisti uma cena no jornal que talvez nunca tenha me chamado tanto a atenção na vida.

Na transmissão ao vivo do jornal, vi uma pessoa vestida como um daqueles mascotes, um cara vestido de Faixinha. Faixa de pedestres, para aquela campanha "Faixa Viva" encabeçada pela CET aqui de Santos. E junto da Faixinha que ficava para lá e para cá, meia dúzia de meninas de boné entregavam panfletos aos motoristas já impacientes em algum semáforo da cidade. Fazia muito frio naquela manhã, e a fina garoa combinada ao vento frio e forte eram fatores de grande desconforto para quem já havia saído de casa.

Não senti pena do cara vestido de Faixinha e nem das meninas que panfletavam. Inclusive, manifesto aqui publicamente o meu respeito ao cara anônimo que fica vestido de Faixinha. Sério.



Mesmo respeitando demais, me senti num impulso de agradecer à Deus, aos Deuses, ao Universo. Como você preferir. Agradecer pelo fato de não precisar estar vestido de Faixinha e nem panfletando às 7h15 de uma gélida manhã. Afinal, estava me alimentando (e bem) para ir à faculdade, poder estudar. Por mais que hoje um dia um curso superior não represente muita coisa, sabemos que o fato de ter-se um curso superior é um requisito mínimo em termos profissionais no dia de hoje. De fato, quem tem a oportunidade de fazer uma faculdade realmente faz parte de uma elite. Não digo elite intelectual, pois o universitário na maioria das vezes é um belo de um ignorante, que simplesmente vai ser um profissional ou técnico ignorante. Digo elite no sentido de poder ter acesso aos estudos, poder ostentar um diploma em seu "curriculum vitae". E enquanto comia pizza de manhã, após um banho quente, devidamente acomodado na cadeira da mesa de jantar, subitamente me dei conta de que a vida é bela. E que devemos valorizá-la. Rir mais. Agradecer mais.

Vamos sorrir mais. Vamos estudar, vamos trabalhar. E vamos nos divertir sim, claro. É direito legítimo do ser-humano divertir-se. Muito embora eu não seja feliz. Nem triste. Tenho momentos de felicidade, assim como tenho momentos de tristeza. Mas não apenas existo. Eu vivo.

Ainda refletindo enquanto me alimentava, ouvi as escandalosas sirenes de uma ambulância que cortava em alta velocidade a fina garoa daquela manhã cinzenta, mas de uma ainda simpática Segunda-feira. Senti-me então feliz por não ser eu a ser conduzido às pressas naquele automóvel. Nem eu, ou nem ninguém da minha tão amada família. Lembrei então do Dia dos Pais, que havia ocorrido no Domingo, um dia antes. Um almoço feliz, com a família toda reunida. Amo meu pai. E também amo minha mãe, e meu irmão. E todo o resto da minha família. E meu amigos, e meus colegas. Só não amo ainda meus inimigos. Mas tenho tentado, pois assim ensinou Jesus Cristo. Um dia chego lá. E entre um sorriso que se esboçou em minha face ainda sonolenta, agradeci novamente.

No mesmo jornal que eu assistia, vi que uma jovem de 17 anos havia morrido num Parque de Diversões (?) no Rio de Janeiro (e hoje, na data que transcrevo esse texto do meu caderno para o blog e o posto aqui, outro jovem que estava internado em estado grave também veio à falecer em decorrência do mesmo acidente.) Como não agradecer também? Afinal, nunca despenquei de brinquedo algum nos parques que já percorri, muito menos fui atingido por nenhum deles enquanto aguardava numa de suas imensas filas. É claro que ouvir tal notícia me deixou muito triste. Intrigado em relação às "ironias do destino". Mas confesso que me senti feliz. Por mim, por estar vivo. Não por ela, claro. Que Deus a receba de braços abertos, e que com os mesmos braços ampare sua família.



Como disse, eu nunca despenquei de um brinquedo. Nunca quebrei um osso na infãncia, muito embora tivesse tido várias oportunidades para isso. Nunca tive uma overdose sequer no auge do meu momento "sexo, drogas e rock´n, roll". Chego ao cúmulo do ridículo de sorrir diante do fato de nunca ter morrido. Pelo menos nessa vida. E agradeço por isso.

Talvez você seja bem parecido ou parecida comigo, e deveria agradecer também. Eu também choro. Também sofro às vezes. Sou um belo retardado às vezes. Mas também sou bem incrível. Preciso de massagem de ego. Aliás, eu necessito de massagens de ego. Tenho uma cota mínima delas por dia. Tem de ser pelo menos uma por dia, e isso é tão importante quanto o café-da-manhã, o almoço ou os tais 2 litros de água por dia. Do contrário, começo a entrar num processo depressivo. Eu ia dizer "começo a entrar num processo auto-destrutivo", mas me dei conta que já vivo num processo auto-destrutivo. Mas não se desesperem, é um processo feliz. Muito provavelmente você vive o seu processo auto-destrutivo também. Ou seja, sou tão ridículo quanto você. E deveríamos agradecer por isso também. Agradecer pode te deixar feliz, assim como me deixa feliz.

Agradeço também pela oportunidade e pelo fato de poder ter sido (e ser) amado, educado e alfabetizado, dando assim possibilidade para eu poder exteriorizar meus pensamentos em palavras em poder compartilhá-las com você, "amigo que talvez eu conheça". Ou "amigo que talvez eu não conheça". E se caso eu não te conheça pessoalmente, saiba que te considero um amigo pelo simples fato de você ter perdido (ou ganho) seu valioso tempo lendo os devaneios matinais deste que vos escreve com tanto carinho. A não ser que você seja um puta de um babaca. Aí, não me considere seu amigo. Me considere no máximo um conhecido seu.

E pensando sobre esse negócio todo de agradecimento, me lembro de quando eu era criança. Naquela época, eu era obrigado a dizer "obrigado". Principalmente quando eu ganhava presentes que eles sabiam que eu não tinha gostado nem um pouco. Já na minha adolescência, minha consciência, minha racionalidade, que me obrigavam a agradecer aquelas coisas que a gente simplesmente sabe que tem que agradecer. Hoje em dia, homem feito (talvez um menino num corpo de homem), digo "obrigado" sem ser obrigado.

Aproveito para dizer que me sinto bem cansado ultimamente, pois dormi bem pouco ou quase nada nos últimos dias. Por opção própria. E agradeço pelo fato de ter a liberdade de não dormir quando eu bem entender, pelos motivos que eu bem entender, e o mais importante de tudo: fazendo o que eu bem entender.



Me traz muita paz o fato de poder, numa cama quente e confortável, dormir o sono dos justos. Ou dos injustos. Só Deus sabe. Se bem que, em um julgamento perante minha própria consciência, eu me considero ainda bem injusto para comigo mesmo. Para com o meu corpo, para com o meu espírito. Não um injusto feliz. Não um injusto infeliz.




Na verdade sou apenas um injusto bem consciente no que tange à meus próprios erros e acertos, às suas responsabilidades e suas irresponsabilidades. Apenas um injusto bem conformado com sua humanidade, na exata medida em que me inconformo com o fato de ser apenas humano.



Alma vestida de carne, que se adorna com excessivos aparatos perante Deus, o mundo e perante si mesma. Mas que ainda muito pouco se perfuma com a fragrância das virtudes.

Alma penada que vaga aprisionada dentro de seu próprio invólucro carnal transitório. Que assombra suas próprias virtudes com os urros fantasmagóricos da sua própria personalidade, que durante milênios viciou-se em si própria. Viciou-se em suas mentiras tão verdadeiras que tornaram até hoje tão incertos os seus próprios acertos. E perante Deus e o Diabo, e perante inclusive o mais católico dos ateus, tão certos ainda são e serão os reiterados erros deste espírito que neste planeta com certeza nasceu para morrer e para talvez viver. E rezou, no doloroso caminho que fez entre o céu e a terra pouco antes de reencarnar, para que existente não fosse a inexistência de consciência perante aquela existência que se iniciaria na Terra de forma ainda tão inconsciente!

Espírito consciente de seu potencial latente e infinito, perante (e tal qual) o Universo. Espírito esse ainda tão inconsciente das consequências de certas atitudes que ainda insiste em tomar, mas sempre consciente quanto ao fato de saber quando olhar aos céus e e simplesmente agradecer.

E lembrem-se, crianças: O PEDESTRE PASSA, O RESPEITO FICA.

Uma boa vida à todos.

*Crônica escrita na mesa de jantar da minha casa, enquanto comia pizza, na manhã descrita acima

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