Só sei que nada sei, mas ainda insisto em digitar...

terça-feira, 10 de abril de 2012

Só sei que discordei.

"A racionalidade que estagna é uma forma de irracionalidade opcional. É pensar de tudo para simplesmente não pensar em nada. Uma das formas da tal auto-sabotagem, creio eu."

Quase nunca existe alguém para dar uma palavra de apoio, ou alguém para, no mínimo, trocarmos alguma idéia edificante sobre uma coisa edificante qualquer. Mas sempre tem alguém para dizer que: "O MUNDO ESTÁ PERDIDO".



"O mundo está perdido." Será? Eu não sou o rei da astrofísica, mas me parece que a Terra, dadas as devidas proporções, permanece no seu lugarzinho há não sei quantos bilhões, ou trilhões, de anos. Desnecessário é eu acessar o Wikipédia e discutirmos agora essa questão em particular.

Aí o sujeito disso que "o mundo está perdido". E é claro que nas rodas (quase sempre ridículas) de discussões (quase sempre igualmente ridículas) que frequentamos, sempre haverá também alguém para contra-argumentar, com ares de pseudo-sabedoria, esta triste sentença, dizendo que "não, o mundo não está perdido. AS PESSOAS ESTÃO PERDIDAS."



"As pessoas estão perdidas." Será? Eu não sou o rei da sociologia, mas me parece que na Terra, dadas as devidas proporções, as pessoas têm tido acesso à todo tipo de cultura e contra-cultura há não sei quantos séculos. E digo apenas séculos pois seria cruel exigir cultura do homem desde que começou a lidar com a racionalidade. Mas alguns séculos já dão pro gasto, não é verdade? Ainda mais atualmente, na era da Internet. O ser humano atualmente tem acesso a praticamente TODO tipo de cultura, em questão de cliques. A grande sabedoria dos grandes mestres da humanidade nos quatro cantos do mundo através dos milênios, de todos os filósofos de todas as vertentes está AQUI. Ou no mínimo, estará o método, ou meio, para que tal sabedoria seja acessada.

Goethe tem uma frase que é mais ou menos assim: "As grandes verdades do mundo já foram ditas. Nos basta agora vivê-las".

A primeira vez que ouvi isso, foi pra nunca mais sair. Pois é realmente uma grande verdade. As pessoas vivem entrando em grandes questionamentos acerca de tudo. E me parece que quanto mais inteligente é a pessoa, de forma mais imbecil ela acaba agindo, na maioria das vezes. Pois quando a pessoa é inteligente, sua mente obviamente dispões de mais mecanismos para articular pensamentos. Se essa pessoa é orgulhosa e acomodada (e quem de nós não é?), sua mente será capaz de maquinar os maiores e mais ridículos pseudo-dramas e crises existenciais, estagnando a pessoa no seu próprio joguete mortal de dúvidas cujas respostas, no fundo, ela sabe. Hoje em dia só não tem uma diretriz moral de boa qualidade quem não quer. Sem falar que nem precisamos muito buscar e investigar acerca das direções morais, pois os próprios conceitos éticos e morais são conceitos que são meio que intrínsecos à nossa existência e condição humana. A tal da consciência. E não adianta vir me dizer que a "pessoa se perdeu por opção", pois o mapa está dentro da cabeça dela própria. Então favor não confundir "estagnação opcional" com "perdição" ou "perdimento".

Pois a nossa existência é simples demais. Sabemos exatamente o que nos atrasa, e o que nos projeta para frente. Não somos os tais "animais racionais"? Então. A racionalidade que estagna é uma forma de irracionalidade opcional. É pensar de tudo para simplesmente não pensar em nada. Uma das formas da tal auto-sabotagem, creio eu.

Se eu disse à vocês que o mundo não está perdido, nem as pessoas estão perdidas, ainda poderá alguém e dizer que "mas se todas as verdades do mundo já foram ditas, as pessoas talvez não estejam sabendo vivê-las pois ESTÁ LHES FALTANDO A DEVIDA CAPACIDADE DE INTERPRETAÇÃO DOS TEXTOS QUE CONTÉM AS GRANDES VERDADES DA VIDA."



"As pessoas não têm tido a capacidade interpretativa devida de certos textos." Será? Olha, meu amigo. Se você olhar bem, os "códigos de conduta moral" (vamos chamar assim as verdades que foram ditas e escritas por muitos ao longo dos tempos) estão aí faz muito tempo. Há não sei quanto tempo atrás, os "Dez Mandamentos" de Moisés diziam coisas como "Não matarás". A humanidade daquele tempo era muito mais desumana naquela época. E desumana não por opção (talvez de poucos), mas desumana no sentido de animalidade latente que aquela "humanidade" ainda lidava, eram os primórdios, afinal. O homem, que é um ser extremamente complexo, estava ainda em período de formação moral. Mas até esse homem-animal (e não por opção, como os homens-animais de hoje em dia) conseguia interpretar o "Não matarás".

Assim como os atenienses interpretaram muito bem o que Sócrates queria dizer. Assim como os próprios fariseus interpretaram, e até demais (no mau sentido) o que Jesus disse. Se eles não concordaram e não quiseram viver, de fato, aqueles ensinamentos que a sua própria racionalidade soube interpretar, aí é outra história. Pois "interpretação" não é pressuposto para "concordância". E até a própria "concordância" não é pressuposto para "vivência" ou "aplicação".

Pois somos capazes de interpretar algo, mas não somos obrigados a concordar com nada que nossa racionalidade foi capaz de interpretar. E supondo que interpretamos, e concordamos com um raciocínio ou ensinamento qualquer, não somos obrigados a vivê-lo, minimamente ou em plenitude. Nosso livre arbítrio nos permite concordar com algo, mas simplesmente não viver esse algo.

Aí pergunto: "No que se baseia seu livre arbítrio?"

Pois é como eu disse um pouco mais acima. Se a humanidade desde os primórdios soube interpretar verdades tão básicas, porque a nossa humanidade hoje em dia não seria capaz de interpretar essas mesmas verdades tão básicas, tão simples e de acesso tão fácil?

Ora, isso seria ilógico. É claro que a nossa geração é capaz de interpretar o simples, e até o complexo. Basta querer. E "querer" ou "não-querer" é sempre decorrência da faculdade que citei há pouco: livre-arbítrio.

Então, repergunto: "No que se baseia o seu livre-arbítrio?"

Aliás: "No que se baseia a sua existência? E aonde isto já te levou? Aonde você se encontra agora? E aonde esta tua realidade de agora vai te levar?" 

Não precisa me responder. Responda à si mesmo. Mas não tente enganar a si mesmo. Não mais. Seja sincero contigo mesmo. Chega de palhaçada, pois eu sei que você é uma pessoa muito inteligente e não aguenta mais essa sua situação, independente dos momentos de fuga que você ainda insista em criar para si mesmo. E uma vez constatada a situação humanamente precária que você se encontra (e digo "humanamente precária" pois estou me podando, tentando escrever menos palavrão), eu rezo aos deuses para que você tome vergonha nessa sua cara e realize tudo o que você tem que realizar nessa vida, e nas outras, de vez. E sem olhar para trás. Pois se olhar pra trás...

Bom, aí você já sabe o final. O final triste e desesperador, que conduz ao fatigante e esperançoso recomeço. E assim sucessivamente.

Não, o mundo não está perdido. Nunca esteve. Você que é um filho da puta. E porquê quer.

Acorda pra vida! Antes que a vida te acorde pra morte.

Paz à todos.

4 comentários:

  1. Absorver, entender essas verdades... Poxa, acredito que viver dessa maneira não é, de fato, viver. Sabe, se transforma numa falsa pretensão à algo maior.
    E se esse entendimento, esse livre arbítrio como você mesmo colocou, for um meio em direção a algum fim, ele não pode ser total. A não ser que sua vontade de viver tais grandes verdades seja um fim em si mesma, não há possibilidade dela ser total. 

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  2. Jamais será uma "falsa pretensão" a partir do momento em que você se dispor à viver esse "algo maior" como o ápice da sua verdade. Nessa vida ou na outra. E quando eu digo "verdade" eu quero dizer: o máximo de verdade que você, como ser humano, puder entender e se dispor a viver. E lembrando sempre que "meio" e "fim" são medidas relativas e vulgares dentro de um conceito de "tempo". Ora, sendo o PRÓPRIO tempo relativo por si só, é claro que qualquer conceito que envolva tempo seja também transitório. Ou seja: o que é "fim" agora pode ser "começo" ou "meio" em uma outra medida paralela-relativa de de tempo. Mas isso já é filosofar demais, e acabamos perdendo o propósito da discussão. Mas sinta-se à vontade para alongar, amigo anônimo.

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  3. Não sei se teria coragem de viver isso como o ápice da verdade, em qualquer vida, em qualquer momento. Admito isso tentando me livrar ao máximo da hipocrisia que iria me absorver ao escrever aqui, e te questiono se pensaria diferente.
    Estou disposto a viver muito mais do que posso entender. E como ser humano, tenho um limite. "No que se baseia a sua existência? E aonde isto já te levou? Aonde você se encontra agora? E aonde esta tua realidade de agora vai te levar?" como você bem questiona, faz parte desse meu tempo x espaço (relativo) que quero e me disponho a viver, mas temo ser muito mais do que eu posso absorver e transmitir.
    Daqui pra frente – e me contrarie se quiser, acredito ser muito mais filosofia e discussão do meu estado pessoal do que algo relevante ao teu texto, ou ao teu interesse.

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  4. De fato, quem muito teoriza pouco vive o que escreve. Do contrário não teria tanto tempo para o mesmo. Respeito tua escolha. E vá pela sombra - e sem hipocrisia.

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