Só sei que nada sei, mas ainda insisto em digitar...

segunda-feira, 28 de março de 2011

A linha tênue.

"Loucura ou não, os mundos e personagens que criamos dentro de nós mesmos são tão reais quanto tudo que existe fora de nós mesmos. A linha entre o "real" e o "surreal" é uma linha muito tênue. Isso torna nossa vida mais interessante."

Estou apaixonado por todas. Até pelo cara.



"Sucker Punch". PUTA QUE O PARIU! Um "punch" na minha cara. Obrigado de coração, Zack Snyder. Eu não estava preparado para esse filme. Cogitei pelo trailer que seria foda, mas cara...sem palavras. Para quem não sabe, "Sucker Punch" é o novo filme do diretor Zack Snyder (o remake eletrizante de "Dawn of the Dead", "300", "Watchmen"). 

SPOILER ALERT!

O filme conta a história de Babydoll, que é confinada num hospício pelo padrasto, após a morte da mãe e o assassinato da irmã mais nova. Como ela é a única herdeira, seu pai a confina propositalmente no hospício, acusando-a da morte da irmã mais nova (morta por ele). Suborna o médico responsável pelo sanatório para que façam nela uma lobotomia. No hospício não há ninguém que conheça tal procedimento, então é chamado um médico especialista para lobotomizá-la em 5 dias. Babydoll então refugia-se na sua própria mente, na sua imaginação. Ela então bola um plano de fuga do hospício, e executa-o com a ajuda das novas amigas: Rocket, Sweet Pea, Blondie e Amber. Todas juntas em busca da tão sonhada liberdade.

Bordel imaginário. Faz parte do MEU imaginário também.


Não aguentando a pressão do mundo real (hospício), Babydoll projeta-se primeiro (em sua imaginação) em um bordel. É no bordel que a maioria do filme se desenrola. No bordel, todas as doentes mentais (incluindo suas amigas) são dançarinas e prostitutas. No bordel, a cada vez que Babydoll dança, ela projeta sua imaginação num nível mais profundo, em seu dito mundo de fantasia. E aí que a porra toda desenrola.

Evil-samurai-gigante com metralhadora. Existe coisa pior?


No primeiro mundo de fantasia, durante sua primeira dança, ela vê-se em uma espécie de Japão Feudal, com influências absurdas de anime e mangá. Lá, ela conhece uma espécie de sábio, que vira guia das meninas. Ele diz coisas do tipo "aqui estão as armas que você precisa para vencer sua batalha e ganhar a liberdade". E em todas as missões ele está presente, da primeira à última. Não vou estragar mais o filme de vocês, mas digamos que no filme, além do Japão Feudal com samurais gigantes demoníacos com katanas e metralhadoras, temos também missões na Primeira Guerra Mundial com influências absurdas de steampunk,  soldados-zumbis, robôs, dragões, orcs, castelos, aviões, zepellins e cidades futuristas. E na boa: as cenas de ação nesses cenários são simplesmente de cair o cu da bunda. E dá-lhe uma puta trilha sonora, e como sempre (e ainda bem!) Zack Snyder usa e abusa da câmera lenta.

O filme é foda, principalmente se você for um cara entre 20 e 30 poucos anos que se amarra em tudo isso que eu descrevi acima. Conselho: se você for solteiro, prefira chamar um amigo para essa sessão de cinema em especial. Caso chame uma menina, ela muito provavelmente vai te achar um retardado. Se você namora, vá escondido no cinema, pois sua namorada também vai te achar um retardado. Por que você simplesmente vai sorrir o filme inteiro, comemorar, falar sozinho e coisas do tipo. Detalhe muito importante: todas as meninas do filme, sem exceção, são lindas, gostosas e "badass" demais. Fiquem avisados.

Fugindo de um dragão num bombardeiro. Sem mais. 


Agora que eu já paguei pau pro filme, vamos à análise filosófica (pffff!...). O filme, filosoficamente, tem uma puta mensagem, mas que já é um clichezão de milhares de anos atrás. Zack Snyder apenas atualizou para o cenário pop as velhas histórias do "vencendo sua guerra interna, vencerá a guerra externa", "o que é real, o que é irreal?", "você é o responsável pelos anjos e demônios que você mesmo lida", "a vida te dará todas as armas necessárias para vencer a guerra da vida" e o famoso "você faz o seu destino, e às vezes, o destino dos outros também." Já vimos isso desde a mitologia grega. Em "Sucker Punch", no Japão Feudal, o sábio entrega à Babydoll as armas necessárias para a batalha: uma pistola e uma katana. E diz à ela que para vencer ela precisará encontrar um mapa, fogo, uma faca, uma chave e um quinto item misterioso. Na mitologia grega, Zeus entrega à Perseu a espada em sua jornada para salvar a amada de ser um sacrifício do temido Kraken. Em dado ponto do caminho, Zeus entrega à Perseu o escudo, que seria necessário para matar a Medusa, pois Perseu olha o reflexo da Medusa no próprio escudo, podendo assim decaptá-la sem precisar olhar nos olhos dela, não virando, assim, pedra. Qualquer semelhança NÃO é mera coincidência.

Mas o que me chamou muito a atenção foi todo esse lance com a imaginação. Realmente, a imaginação é uma benção nas nossas vidas. Somos criadores por excelência, e a imaginação é a responsável por esse nosso setor interno de criação. Me fez lembrar também de desenhos animados que assisti na minha infância, como " Doug" e "O Fantástico Mundo de Bobby", onde os protagonistas viviam viajando na própria imaginação.

Ticaputa, ticaputicaputicapapá ticapá, ticaputicapá pááá...


Me recordei aí da própria infância, e de como a minha imaginação tornava a minha vida de criança mais feliz.

É Generic!


Eu lembro quando comecei a voltar a pé do colégio. Eu ainda era pivete, e a distância dava mais ou menos uns 15 minutos à pé. E pra uma criança, 15 minutos à pé era uma verdadeira odisséia. Nenhum dos meus amigos voltava por esse caminho (pois no fundo eu também tinha poucos amigos) e então um belo dia, um amigo se apresentou à mim. Era um dragão marrom chamado Draco (sim, era o MESMO dragão do filme "Coração de Dragão", que inclusive era dublado pelo Sean Connery, também, na minha imaginação. Ah, e pronuncia-se "Dreico"). Ele sempre pousava de forma elegante no meio da rua, em meio aos fios dos postes, e falava comigo em inglês. Quando ele pousava, ele falava "And there, Tayan?" (Que na minha cabeça de criança significava "E aí, Tayan?") - como viam, era um dragão simpático e amistoso, como o do filme. Com o passar do tempo, o Draco se fez mais presente, e além de me escoltar diariamente pelo caminho da escola, começou a aparecer voando em cima do meu carro (especialmente na estrada, em viagens longas) e começou a também dormir no meu quarto, como se fosse um cachorro (ocupava o quarto inteiro quase). Eu me recordo que uma época começou a colar um tigre também pra dormir no meu quarto, chamado Mulder (por causa do seriado "Arquivo-X", muito provavelmente), mas minha relação com o Mulder não foi muito duradoura. Do jeito que ele chegou, ele foi embora. Acho que minha mente achava que, para quem era escoltado por um dragão com a voz do Sean Connery, era inútil também ser escoltado por um humilde tigre asiático. Mas tudo bem.

Draco puto da cara.


Eu não me recordo bem de quando o Draco foi embora. Talvez foi na época que eu comecei a reparar nas meninas que também faziam o mesmo caminho de volta. Não sei especificar. Mas sei que esse amigo "de mentira", por muito tempo, preencheu esse vazio que era de verdade.

Dando um help no churras.


Não há muito tempo atrás, tive um sério problema de insônia, e assim como a Babydoll do filme, me refugiei mais uma vez na minha própria mente. Eu não era mais um insone rolando numa cama, era um atirador-de-elite, coberto e abrigado, defendendo a minha ilha futurista de um inimigo desconhecido e impiedoso. Meu rifle era tão bom, que além de acertar os inimigos, conseguia acertar seu comandante que observava tudo de binóculos, em um destroyer no mar. Até aviões-caças não eram páreos para o meu rifle. E após cumprir minha missão, eu recebia a ordem no rádio do meu comandante: "Pode descansar agora". E não é que eu de fato descansava?

Tiro no olho da insônia.


Já fui sobrevivente de um holocausto zumbi e da guerra das máquinas, voltando pra casa em dias chuvosos, onde só existia eu na rua. Meu guarda-chuva era também o meu fuzil, e aquela simples volta pra casa tornava-se também uma grande aventura. Aliás, que casa? Casa não era apenas casa, era a base dos sobreviventes ou o bunker da resistência humana.

Cenário da volta pra casa.


Loucura ou não, os mundos e personagens que criamos dentro de nós mesmos são tão reais quanto tudo que existe fora de nós mesmos. A linha entre o "real" e o "surreal" é uma linha muito tênue. Isso torna nossa vida mais interessante. Menos monótona. Menos mecânica e rotineira. Todo mundo gosta de aventura, mesmo que seja de mentira. Mesmo que seja só sua. Não importa se somos jovens, velhos, estudantes, advogados ou médicos - todos somos um herói em potencial. E se não podemos agir com todo esse heroísmo espalhafatoso como vemos nos filmes no nosso dia-a-dia, qual o mal em imaginarmos isso de vez em quando? Não vejo mal em nos refugiarmos na nossa mente de vez em quando, pois, afinal, a imaginação não serve pra isso? Para quê seríamos dotados dessa incrível faculdade então?

Confesso à vocês que na última vez que fui à Resende visitar o meu irmão, lá estava o Draco a voar majestoso ao lado no meu carro. Trocamos olhares e sorrisos sinceros, muito embora não tenhamos conversado. Acho que ele sabe que acho que sou "grande demais" pra conversar com meu amigo-dragão-imaginário. E como um verdadeiro amigo, ele respeita minha opinião e postura. E como amigo, ao aparecer pra mim recentemente após tanto tempo, me provou uma coisa: Que os amigos de verdade nunca nos abandonam. Principalmente os nossos amigos imaginários.

Friends will be friends.


Boa madrugada à todos!

4 comentários:

  1. "Por que você simplesmente vai sorrir o filme inteiro, comemorar, falar sozinho e coisas do tipo. "

    Sou guria e faço tudo isso muito bem, além de ser viciada em games e afins.
    Quanto preconceito pela nossa classe de gurias nerds rs

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  2. Lindo esse texto Tayan..Que privilegio ter um amigo de VERDADE assim...

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  3. Estava esperando a estréia desse filme desde que vi o trailer no youtube, em meados de agosto do ano passado. E não me decepcionei nem um pouco com o filme. A fotografia é ótima, a trilha sonora EXCELENTE.

    Mas não concordo com "Caso chame uma menina, ela muito provavelmente vai te achar um retardado. Se você namora, vá escondido no cinema, pois sua namorada também vai te achar um retardado. Por que você simplesmente vai sorrir o filme inteiro, comemorar, falar sozinho e coisas do tipo."
    Porque eu tbm fiquei de boca aberta com os efeitos e as cenas d filme!

    Adorei o post!

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  4. Adorei o texto. Ah, essa frase poderia estar no plural, seus textos são realmente ótimos.

    Ei, vc é muito corajoso em assumir que usava uma lancheira da família dinossauro! rs

    A Ana

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