Só sei que nada sei, mas ainda insisto em digitar...

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Só sei que também sou mascarado. - Coruja x As Máscaras que cobrem nossa covardia.

"A maioria de nós também insiste em usar certas máscaras, fantasias e capas. Não necessariamente para combater o crime."

Neste segundo post sobre "Watchmen", tratarei em especial sobre o meu personagem preferido da trama. Daniel Dreiberg, cujo alter-ego é o "Coruja". Vários de seus aspectos nos levam a concluir, estudando o personagem, que ele carrega em si muito do próprio "Batman", também da DC Comics.

Corujão pronto pra descer o cacete nos fitas.


Antes de citarmos Daniel, é impossível não citarmos um sujeito chamado Hollis J. Mason. No universo paralelo de "Watchmen", Hollis foi um dos primeiros super-herói da história, sendo ele o primeiro "Coruja". Hollis era policial em Nova Iorque, quando os bandidos começaram com uma mania de cometerem seus crimes fantasiados, na década de 30. Então Hollis, inspirado pelos quadrinhos do "Super-Homem" e por um outro vigilante mascarado chamado "Justiça Encapuzada", resolve fantasiar-se também e iniciar sua carreira como o super-herói "Coruja".


Hollis Mason, o primeiro Coruja,
tomando uma no "happy hour".


Em 1939, Hollis, ou melhor, o "Coruja", torna-se membro dos "Minutemen", uma liga de aventureiros mascarados, e atua junto deles durante muitos anos, inclusive na Segunda Guerra Mundial.

Foto clássica dos "Minutemen". Da esquerda para a direita:
Silhouette, Espectral I, Comediante, Justiça Encapuzada,
Coruja I, Traça e Dollar Bill.

Os "Minutemen" aos poucos vão entrando em decadência. O "Comediante" agride e tenta estuprar "Espectral I", "Dollar Bill" e "Silhouette" são assassinados, o "Traça" é internado num manicômio e "Justiça Encapuzada" simplesmente desaparece.

"Coruja I" dando um ganho no movimento.


Anos depois, Hollis se aposenta, abre uma oficina de carros e começa a escrever sua auto-biografia, intitulada de "Por baixo do capuz". Na verdade, os "Watchmen" surgiram como uma segunda tentativa de um grupo de super-heróis atuante nos Estados Unidos, tendo sido os "Minutemen" os primeiros.

Hollis Mason: mesmo depois de velho,
ainda assim, um grande porrador.


Agora sim, trataremos do sucessor de Hollis Mason, Daniel Dreiberg.


Daniel Dreiberg, o Coruja II.


Daniel Dreiberg é um intelectual solitário, filho de um banqueiro. Após a morte de seu pai, Daniel herda uma fortuna. Fortuna essa que usa para projetar e construir vários equipamentos, que mais tarde seriam usados por ele para combater o crime. Após conhecer o primeiro Coruja, e receber a benção do mesmo, Daniel finalmente inicia sua carreira de vigilante como o novo Coruja, formando logo de cara uma dupla com "Rorschach" (que terá seu post especial também). Destaque para sua nave, chamada carinhosamente por ele de "Archie", apelido para "Archimedes", que era a coruja de Merlin.

"Archie" decolando do mar.


Então em 1977 a "Lei Keene" é aprovada. A "Lei Keene" é uma lei idealizada pelo Senador Keene após uma greve da polícia e vários protestos da população, em desfavor dos super-heróis. A lei proíbe qualquer atividade de super-herói na sociedade, e obriga os mascarados a se aposentarem, do contrário, seriam tratados como verdadeiros criminosos que atuam fora da lei e contra a lei.

Hollis e Dan: altos papos e altas brejas.


1977 é o mesmo ano da aposentadoria de Dreiberg, ou melhor, do herói Coruja.

Dan na merda em seu porão.


Vamos observar algumas situações-chave do Coruja ao longo da trama. Por exemplo: Dreiberg nunca quis se aposentar na verdade. Ele apenas não conseguiu ir contra o sistema, que proibiu os mascarados. Se acovardou, e se aposentou compulsoriamente. Tanto que ele guardava todos seus equipamentos, uniformes, inclusive sua nave, em uma câmara secreta subterrânea, em um túnel desativado.

O porão classe A do Coruja.


Dreiberg desenvolve um relacionamento com Espectral (trataremos dela depois também) ao longo da trama, e num dado momento, no sofá de sua casa, entre beijos, abraços e tentativas de punheta, o pinto dele simplesmente não sobe, e ele broxa na cara dura (ou mole?). Aí você vai dizer pra mim: "Porra Tayan, também pudera, a Espectral é a mina do Dr. Manhattan, o cara tava tenso. Além do mundo todo estar tenso por causa de uma iminente guerra nuclear entre Estados Unidos e Rússia."

Dan boladão após um momento de paumolecência com Laurie.
Tá pagando mico.


Cara, haja bomba nuclear pra me fazer broxar com ela.

Espectral. (Você broxaria?)


E não, não foram nem o Dr. Manhattan, nem o hipotético holocausto nuclear, os causadores da paumolecência do Corujão. E isso fica claro quando vemos um dos pesadelos de Dreiberg. E está aí outra situação-chave para compreendermos o que se passa na cabeça desse broxa tão querido e simpático.

O pesadelo é assim: Daniel e Laurie (verdadeira identidade da Espectral) estão na superfície de Marte, nus, se beijando. Derepente, cada um arranca sua própria pele, como se fosse uma roupa. E por baixo da pele não vemos músculos, nem tendões, nem esqueleto. Vemos o quê? O alter-ego de cada um, por debaixo da pele de cada um (Coruja e Espectral, respectivamente). Uma metáfora interessantíssima.

Pesadelo de Dan. (Não justifica a broxada, pô.)


Ou seja, no pesadelo dele, literalmente, por debaixo de todos nós, existe de fato um super-herói. Um super-homem. Nietzsche dizia mais ou menos isso. Dizia que o "homem" deve ser nada mais que uma ponte para um "super-homem".

Mas Dreiberg leva isso ao pé da letra como a maioria dos seres-humanos. Ele não consegue aceitar que o super-herói está dentro dele. Ele só acredita que é um super-herói quando veste sua fantasia. De alguma forma, o fato de vestir a fantasia o faz ter acesso ao seu super-herói interior. Sem a fantasia, esse acesso inexiste, e ele não passa de um homem pacato.

Dan e Laurie no beco: na porrada eles não têm limites.


E isso fica CLARAMENTE comprovado quando o Coruja e Espectral resolvem se fantasiar denovo como nos velhos tempos, e ajudarem pessoas que estão presas dentro de um prédio em chamas. Após resgatarem todos, os dois acabam fazendo amor na própria Archie, em pleno céu estrelado de Nova Iorque. E dessa vez ele não broxou. Daí, os dois nus deitados, batendo aquele papinho clássico do pós-foda, resolvem se fantasiar denovo e irem resgatar Rorschach na prisão. Haja empolgação! E isso se dá pois QUANDO DANIEL É O CORUJA, ELE CONSEGUE SER TUDO QUE ALMEJA SER VESTINDO SUA FANTASIA. SUA FANTASIA MATERIAL ACABA CRIANDO UMA REALIDADE, REALIDADE ESSA QUE PRECISA DE UMA FANTASIA MATERIAL PARA, DE FATO, ACONTECER. SAIR DO PLANO HIPOTÉTICO PARA O PLANO FÁTICO. O IDEALISMO DE DANIEL É APENAS HIPOTÉTICO. O IDEALISMO DO CORUJA É FÁTICO. QUANDO DANIEL É APENAS DANIEL, ELE NÃO CONSEGUE SER O QUE O CORUJA SERIA COM SUA FANTASIA. MUITO EMBORA SEJAM OS DOIS A MESMA PESSOA.

Coruja sem limites na porrada.


Pode parecer meio groselha isso que eu falei, mas essa é a mais pura verdade. Todos nós somos um pouco de Daniel nesse aspecto. A maioria de nós também insiste em usar certas máscaras, fantasias e capas. Não necessariamente para combater o crime.

Daniel e Laurie prontos para o resgate.


A maioria de nós não consegue sair por aí de cara limpa. Ser o que você quer ser de cara limpa. Realizar tudo que você tem vontade de realizar de cara limpa. Não reconhecemos que, de fato, o "super-herói" reside dentro de nós mesmos. E se ele está dentro, não há necessidade de fantasiar por fora para ser e agir de acordo com o que você é por dentro. Falo de máscaras hipoteticamente agora, se você ainda não percebeu. Falo de hipocrisia, vícios e etc. São muitas as máscaras que insistimos em usar. Às vezes muitas máscaras de uma só vez.

De fantasia ele trepa.
Aí sim!


E muitos de nós já sabemos disso, mas simplesmente não conseguimos praticar o que sabemos apenas no plano teórico. Não conseguimos nos afastar das máscaras e das fantasias. Ainda insistimos em usá-las para fazermos certas coisas, mesmo sabendo que no fundo, não precisamos mais disso. Se já tivéssemos nos desapegado das fantasias, não "broxaríamos" tanto como o Daniel durante nossa vida.

Coruja no álbum do Orkut.

Todos nós sabemos que fantasias são apenas fantasias. Não são as fantasias que nos tornam melhores, que nos tornam heróis. São as atitudes que tomamos que nos tornam heróis, anti-heróis ou vilões. Com, ou sem fantasia.

Pois como eu já disse: uma fantasia é apenas uma fantasia. Fantasia é algo que não é real. E já que a vida é real, que a encaremos da forma mais real possível: Sem máscaras, sem fantasias ou capas. 

E sem broxar.

Boa noite!

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