Só sei que nada sei, mas ainda insisto em digitar...

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Só sei que é preciso saber amar.

"Existe de fato, idade para saber amar? Para votarmos, temos que ter 16 anos. Segundo o Direito, a maioridade penal é de 18 anos. Afinal, existe maioridade para saber amar?

"Mas era jovem demais pra saber amar."

Trecho de "O Pequeno Príncipe", de Antoine de Saint-Exupéry. Um dos livros mais fofos já escritos na história, com grande teor poético e filosófico. Conta a estória do menino que mora com sua rosa no planetinha B-612.

O planetinha "B-612" e seus habitantes.



Vamos discorrer sobre esse trecho em especial. Existe de fato, idade para saber amar? Para votarmos, temos que ter 16 anos. Segundo o Direito, a maioridade penal é de 18 anos. Afinal, existe maioridade para saber amar?

Eu acho que ele realmente se pronunciou com maestria. Na humilde opinião deste que vos escreve, amor é um sentimento. Mas amar é um processo.

"Como assim, Tayan? Um processo?" Sim, criatura. Um processo.

O amor realmente é intrínseco ao ser-humano. Para mim, o mal, de fato, não existe. O mal é apenas o nome que inventaram para a ausência do bem. Ou seja, somos todos bons em essência. Se nos tornamos maus, apenas nos deixamos levar por influências negativas do meio.

Na estica.


Ou seja, vendo dessa forma, amar torna-se natural ao ser-humano, pois ele é movido pelo amor. Logo, ele ama. Mas COMO ele ama? Como ele lida com esse amor?

Aí que reside o problema. Como amar de forma RACIONAL? Sim, o amor tem de ser racional. Pois senão, amaremos de forma infectada. Infectada pelo quê? Por toda aquela horda de sentimentos inferiores que ainda insistimos em carregar na nossa personalidade. Infelizmente, ao longo dos milênios, tais sentimentos de ordem inferior acabaram criando raízes nas bases morais do homo sapiens.

Ciúmes, orgulho, desconfiança, possessividade. Nomes de alguns dos vírus presentes na nossa personalidade. E como usar esse vírus ao nosso favor? Transformando-o em antídoto. Tal qual o soro antiofídico que tem como componente químico o veneno da cobra, e a vacina que decorre do vírus.

O carneiro e a caixa.


E essa habilidade que desenvolve antídotos morais contra nossa própria personalidade corrosiva, decorre de experiências. Da maturidade. Mas o mais interessante é que essa maturidade não decorre da idade biológica. Essa "maioridade" como me referi acima é uma maioridade espiritual. E aviso-vos de pronto: não existe idade certa para alcançá-la. Nem 16, nem 18, nem 21, nem 81. É variável entre as pessoas. MUITO variável. 

Sim, existem espíritos jovens e velhos. Maduros e imaturos. Ativos e passivos. Experientes e inexperientes. Pois então, Saint-Exupéry está certíssimo quando diz que às vezes somos jovens demais para SABER amar. De fato, a jovialidade do coração quase sempre resulta em amores irresponsáveis e infectados. E nós e os outros acabamos sofrendo com isso no decorrer dos processos amorosos, ao longo de toda nossa vida.

Como expliquei, amar é intrínseco ao ser-humano. Mas o ser-humano nasce justamente para SABER amar, para APRENDER a amar. Aprender como lidar com seu amor de forma limpa e justa. A maneira certa. Muitas vezes, quando somos jovens (ou não) lidamos de maneira errada com nossos amores, de maneira viciada. Viciadas pelos já mencionados: ciúme, intolerância, possessividade, etc. Amar exige muita responsabilidade de nossa parte, tendo em vista que somos responsáveis por todos os nossos atos decorrentes do nosso livre-arbítrio. Ainda mais quando lidamos com outras vidas, tão humanas e sensíveis quanto a nossa própria. Por isso AMAR APENAS NÃO BASTA, TEMOS QUE SABER AMAR. Não basta mais dizer que ama, aí machucar esse alguém que hipoteticamente se ama, e depois desculpar-se com esse alguém. Isso já não é o bastante. É irresponsável demais, é adolescente demais. Aliás, isso nunca foi o bastante.

Você então me questionará: "Como saber amar?"

Bom, meus amigos, saber amar é muito simples. "Saber amar" é simplesmente amar. Afinal, temos "amado" de forma completamente errônea e irresponsável.  Saber amar é amar de forma pura, sem as mencionadas viciações e desvios de personalidade. Amar independe de ser amado. Amar é agir em desfavor de sua própria personalidade. Quando seu orgulho gritar, que seu amor grite mais alto que ele. Quando o orgulho não conseguir mais te cegar momentaneamente, aí sim tu irás enxergar com olhos amorosos. Quando o ódio ou a discórdia tentarem te envolver, que o amor te liberte dessas fétidas amarras morais. Quando a ira se espalhar no ambiente, e você sentir o ímpeto de agredir alguém, fisicamente ou moralmente, que você consiga se domar ao ponto de conseguir amar o seu agressor. E você o ama e o compreende, pois sabes que um dia também já foi um agressor. E você não irá revidar uma agressão. Pois no fundo, aquele que agride é sempre mais infeliz que aquele que é agredido. Esse é o famoso "dar a outra face". Não deixar de se defender, mas sim uma metáfora de não retribuir violência com violência. Não agredir, mesmo tendo sido agredido. Pois esse tipo de atitude realmente não resolve NADA. Só faz ecoar o choro, só prolonga o banho de lágrimas.

Saber amar, senhoras e senhores, é saber RESPEITAR. E não vou nem exigir muito de vocês e pedir para respeitarem o próximo. Respeitem pelo menos aqueles que vocês amam. Já é um bom começo. E nem isso às vezes conseguimos fazer direito. E é quando constatamos isso que sabemos que é hora de mudar, hora de melhorar e de fazer algo em relação à isso. A chamada-mor para a corrigenda interior é constatar que machucamos alguém que amamos. Não façamos aos outros NADA que não gostaríamos que fizessem com a gente.

O autor, que era piloto militar, morto durante
uma missão de reconhecimento.
Seu corpo nunca foi encontrado.


Paremos com tudo o que estivermos fazendo de errado então, a partir de agora. Que não simplesmente amemos alguém. Isso é muito pouco. SAIBAMOS AMAR ALGUÉM, de forma autêntica e responsável. Sentir e viver um amor legítimo de alma. Vamos deixar a infantilidade e a adolescência para trás. Vamos nos esforçar para atingirmos de vez a nossa maioridade espiritual. E isso se dá com amor e respeito à todos que nos cercam. Mas para saber amar, é requisito básico atingir a maioridade espiritual. Deixemos de lado nossa futilidade mundana, e nossos vícios de personalidade. O amor é o mais nobre dos sentimentos, logo, para ser vivido na sua plenitude (que é transcendental ao ser físico), deve ser vivido e tratado com a mais alta nobreza humana possível, da parte de cada um. Quando soubermos amar, seremos felizes. E quando formos felizes, nossa única preocupação será tornar todo o resto feliz. Grande trabalho à frente. Comece tornando você mesmo feliz, aprendendo a saber amar. Sua pessoa amada agradece. Você também irá agradecer. O mundo agradece.

Mãos à obra!

3 comentários:

  1. É hora do mundo aprender amar para que entao este sentimento comece a aparecer! Acredito também como vc mesmo usou que a essencia do ser humano é boa, TODAS SÃO! Independente de status financeiro ou boa educaçao... mas, o mundo ainda é pobre de espirito e acaba que esse "sistema" suga, aprisiona..mata, essa essencia pura!
    Otimo post!!!! (patty)

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  2. Somente ama aquele que se desprende dos vícios, por isso o amor é para poucos nesse mundo...os que amaram aqui foram taxados como tolos cada um na sua época e os que não morreram martirizados, mereceram dos seus contemporâneos os restos do banquete jogado aos porcos.

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  3. "Amar é um processo" - créditos pra mim.
    Muito bonito esse texto, quero ver na prática. E você sabe, eu como boa Tomé, só acredito vendo.

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