Só sei que nada sei, mas ainda insisto em digitar...

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Só sei que atuei.

"Por isso a amante sempre parece ser mais legal que a esposa (mesmo que essa impressão seja apenas momentânea), aos olhos do traidor. Por isso que as pessoas que moram longe sempre parecem mais legais e mais interessantes do que as pessoas que moram perto."



É muito cômodo e fácil, além de ridículo, achar que vive-se virtudes em lapsos de tempo. Viver-se as virtudes, ou seja, agir de forma virtuosa em dias certos ou datas comemorativas. Viver mentiras como verdades, pois essas verdades são temporárias. Ser virtuoso quando lhe convém (logo, ser falso), pois existe algum interesse egoístico em jogo. Por exemplo: jurar amor eterno, mas desde que seja por tempo determinado. "eterno enquanto durar", como dizia o poeta. doar-se, mas sabendo que cedo ou tarde, aquilo não mais fará parte de você ou do seu dia a dia. 

O lapso de tempo pode ser motivo de crise. Muitas vezes, um casamento pode estar fadado ao fracasso. Muitas das vezes, os noivos já sabem disse desde a época em que namoram. mas vão levando, pelo motivo que for. Nesse caso em específico, o lapso de tempo acaba torturando, pois é um lapso incerto. Não se sabe ao certo quanto vai durar, em medidas de tempo exatas, aquela tortura resultante da incerteza de tal lapso temporal. Logo, os dois lados buscam fugas. E normalmente a fuga mais humana é a traição. Que muitas das vezes, já faz parte de um relacionamento desde que o casamento ainda era namoro. Ou flerte. Vai saber?

E o que motiva a pessoa a manter um relacionamento extra-conjugal? Ou manter, mesmo já comprometido com alguém, a idéia de que um dia irá separar-se, e aí sim, irá encontrar o verdadeiro amor da sua vida?

Normalmente, é a busca exacerbada do ser-humano pelo inatingível. Pela perfeição, que no fundo ele sabe que de certa forma é inatingível num mundo e numa sociedade como a nossa. É desejar o perfeito que já cai dos céus em seu colo de forma perfeita. Não é a visão de perfeição, por exemplo, do artista. O artista se depara com uma peça de mármore, e talha, com maestria, paciência, carinho, abnegação e técnica a tal peça de mármore. E anos depois, temos uma obra de arte. Magnífica. Perfeita. Mas que não foi criada ao acaso pela Natureza. Por trás daquela obra perfeita, existia um artista dedicado e apaixonado. Logo concluímos que a perfeição resulta do trabalho. Do trabalho que resulta da inteligência e dedicação, ambos atributos essencialmente humanos.

Mas afinal. Que ser-humano que você conhece que é assim? Aliás, você, leitor, é assim? Este que vos escreve tenta de coração ser assim, mas ainda não o é. 

Como ia dizendo, o ser-humano tende a desvalorizar, e pior, a criticar tudo aquilo que o cerca que não seja perfeito à seus olhos que são tão imperfeitos na exata medida que são simultaneamente tão hipócritas, além de tão julgadores. E é óbvio que essa crítica irá atingir muitas vezes o marido, a esposa, os filhos, o pai, a mãe, os amigos, os inimigos, e todo o resto do mundo.

Por isso a amante sempre parece ser mais legal que a esposa (mesmo que essa impressão seja apenas momentânea), aos olhos do traidor. Por isso que as pessoas que moram longe sempre parecem mais legais e mais interessantes do que as pessoas que moram perto.

Pois com essas pessoas, de alguma forma, sempre está começando-se do zero. Não existem erros à serem jogados na cara. Inexiste o arrependimento, o peso na consciência, a dor de uma traição ou o desapontamento com expectativas que não foram alcançadas, com promessas que nunca são cumpridas ou com a carência que não é, e nem será, suprida.

Não existe cobrança. Não existe crítica. Pois não existe constância. Pois não existe uma verdadeira convivência. Você não vive do lado da amante, ou daquele conhecido que mora longe. A amante não enxerga seus erros. O conhecido que mora longe não conhece seus piores defeitos. Ou seja, essas pessoas de fato não te conhecem. E você de fato não as conhece também. Caso conhecesse realmente, a imperfeição dessas mencionadas pessoas iria te irritar da mesma forma. A amante se tornaria tão chata e insuportável quanto a esposa. O conhecido de longe, que agora seria um mero conhecido de perto, seria também idiota aos seus olhos. Logo, o ser-humano entra num ciclo vicioso. Então, arruma uma amante para a própria amante, e trata logo de conhecer mais pessoas que moram longe, para ele poder idealizar na cabeça dele que elas são tão legais quanto ele próprio.

Pois o ser humano de certa forma idealiza, almeja o inatingível. Almejamos e nos deixamos consumir pela expectativa de amores platônicos, em vez de valorizar o amor que já existe na sua vida. Amor de homem, de mulher, de família, ou de amigo. Ou pior, deixamos muitas vezes de NOS PERMITIR a viver um amor real e efetivo na nossa vida, pois nossa mente já está consumida, fixada e apegada à um ideal de amor platônico hipotético que nem sequer existe, e que muito provavelmente nunca vai existir. Pois o romântico platônico idealiza a perfeição, e não existe perfeição à sua volta, e muito menos dentro de você.

Somos tão hipócritas que não queremos lidar com falhas alheias, ao ponto em que exigimos total compreensão no que tange à nossas próprias limitações e falhas humanas. O imperfeito que exige a perfeição. O rei da hipocrisia. Digno de pena.

É cômodo demais viver uma noite fullgás. Um relacionamento fullgás. Pois é vazio. Parece tudo por uns momentos, mas na mesma proporção em que pareceu um tudo, torna-se um nada. E é nada mesmo. É mentira. Mentira essa que você e os outros contam, e que você e os outros se deixam acreditar. Os sentimentos verdadeiros e as sensações legítimas precisam de bases morais fortes. E para desenvolver bases morais junto de alguém, deve-se ter as qualidades do artista que mencionamos acima. Deve-se talhar a perfeição nas pedras de mármore que a vida lhe apresenta, em vez de procurar-se esculturas perfeitas por aí. Pois essa escultura é personalíssima. É sua, e cabe só a você próprio desenvolvê-la. E depois que você desenvolvê-la, tal qual o artista, cabe a você próprio mantê-la com o mesmo zêlo com o qual a criou.

Vivemos idealizando o inatingível, pois, de certa forma, temos medo de atingir algo concretamente. Pois quando atinge-se algo, quando completa-se a missão, logicamente seremos incumbidos de outra missão. Como o exemplo que acabei de citar: o artista recebe a missão de encontrar a pedra de mármore. Após o artista cumprir a missão de talhar a escultura, ele recebe a missão de mantê-la. E assim sucessivamente. Mas é importante dizer que para sequer você saber qual é a próxima missão, deve-se necessariamente ter cumprido a anterior. Ou seja, existe uma incerteza em saber qual será a próxima missão. E aí começam os devaneios e auto-questionamentos. "Será que vai ser uma boa missão?", "Será que vai ser uma missão ruim?", "Será que vai ser uma missão desagradável à minha preguiça?". Então muitas vezes opta-se em simplesmente não realizar missão alguma. Não atingir objetivo algum. A solução consciente, e muitas vezes inconsciente, acaba sendo o culto ao inatingível, ao invés do atingível. É enganar-se querendo algo que você não pode ter, pois no fundo você não quer lidar com a imperfeição que esse mundo tem a lhe oferecer. Logo surgem então amores platônicos, ao invés de aquilatar um amor possível. 

A certeza da incerteza nos atormenta, alimentada pela nossa covardia e pela estagnação no comodismo de nossa própria zona de conforto.

E irei dizer a vocês, "zona de conforto" me soa extremamente estranho, pois a maioria das "zonas de conforto" são apenas "zonas" mesmo, no sentido ruim da palavra. O ser-humano além de estagnar, resolveu estagnar na lama, no charco. E a maioria parece estar bem com isso.

Por isso soa mais cômodo um relacionamento extra-conjugal ou sentir saudades de alguém que você mal conhece, ou pior, que você nem conhece. Vive-se mais plenamente quando não se deve prestar satisfações à alguém, ou na maioria dos casos, quando não se deve prestar satisfações à sua própria consciência, nem que seja por algumas horas ou alguns minutos. Ou anos. 



Mergulhamos então de cabeça em um situação que julgamos ser um paraíso. "Paraíso" pois justamente pode-se usar a máscara que melhor lhe agradar, pois esse paraíso é artificial e momentâneo. E os mascarados bem sabem que uma máscara bem talhada e bem posta não cai tão fácil assim. O perfume não será impregnado pelo fedor do suor em poucas horas, não? O marcarado fica então tranquilo e relativamente em paz quanto à sua fantasia. Logo, representa-se tal personagem à terceiros, e talvez o mais prazeroso: representa-se tal personagem à si mesmo. 

E muito embora nesse paraíso artificial e momentâneo o mascarado muito provavelmente esteja lidando também com mascarados, tais quais ele próprio, isso simplesmente não gera incômodo ou afetação. Pois tudo está bem, se a máscara alheia também não cair. Mascarados amam as máscaras, as suas próprias e as dos outros. Pouco importa o ator, importa a máscara. Assim como pouco importa o teatro, o que importa é o palco e cenário. 

E como tudo é muito rápido, geralmente não cai. então personagens que agem como se fossem reais vivem fantasias, e sentem-nas igualmente como reais, na plenitude de seus sentidos entorpecidos pela própria mentira que resolveram contar para os outros e que resolveram escutar dos outros. e enquanto os mascarados, os personagens, bailam, riem e gozam em seu palco fétido. e nesse teatro em ruínas, que desaba aos poucos conforme o tempo passa à serviço da verdade inexorável, os verdadeiros não tem ao menos a chance de chorar de vergonha, sufocados violentamente pela máscara que resolveram vestir por livre e espontânea vontade.

Mas toda peça de teatro tem hora para acabar. Por melhores que sejam os atores, por mais glamouroso que possa parecer a produção, com suas máscaras, figurino, cenários e diálogos, a peça não deixou de ser peça. 

A peça não deixou de ser baseada num roteiro escrito em uma madrugada extremamente fria, ou extremamente quente, regada à muito uísque, cigarros e outras coisas mais.

Roteiro escrito de forma covarde atrás da máquina de escrever que você mesmo inventou. Na máquina que você mesmo inventou, escreveu o próprio roteiro deprimente e mentiroso, por mais que você tenha tentado disfarçar. Roteiro deprimente e mentiroso que você próprio irá estrelar em conturbada de noite de gala, durante várias temporadas. Estrelando e interpretando o papel do personagem que você idealizou de forma doentia, muito provavelmente dividindo o palco com os piores atores e figurantes, que o mundo puder te oferecer, mas que você acolherá de braços abertos por você e pela platéia de zumbis que os assiste e aplaude, pois todos nesse teatro são tão deprimentes quanto você próprio. 

Um comentário:

  1. Seu Blog é incrivel!
    Olhe o link para o meu:
    http://llabellallunna.tumblr.com/
    Será um prazer ter uma visita sua, mas, ao contrário de você, não tenho muito texto, gosto muito de imagens,rs.

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