Só sei que nada sei, mas ainda insisto em digitar...

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Não sei se morrerei aos 27.

"Achamos que conhecemos todo mundo, quando na realidade não conhecemos nem a nós mesmos."



A Amy Winehouse faleceu, e choveram os comentários. Comentários de toda a ordem. E nesse espetáculo gerado pela morte, mais fui espectador que comentarista. Mas vou comentar meia dúzia de coisas agora.

O ser humano não perde a mania de julgar. Julgar o uso de drogas de um, julgar o estilo de vida do outro. Até aí nenhuma novidade. Muitos falam que: "Nossa, mas com esse dinheiro, talento e fama, eu jamais me afundaria dessa forma."

Tudo bem. Agora lhes pergunto o seguinte: "Você tem problemas na vida? Aflições, angústias? Ansiedade?" 

Se tem, ótimo. Isso prova apenas que você ainda é humano. E como todo humano, você deve beber no fim de semana, como qualquer ser humano. Talvez você seja alcoólatra ou viciado em drogas. Pouco importa.

Agora vamos imaginar um mendigo. Um mendigo na rua, encostado num muro de casa qualquer. Esquecido pela sociedade, talvez esquecido até por Deus. Ele sente frio, sede e fome. Não sente saudades, pois no fundo nunca teve ninguém. Talvez ele nem saiba mais seu próprio nome. Ele não vive - apenas sobrevive. Dia após o outro, tal qual um soldado numa batalha sangrenta.

Imaginemos ainda que esse mendigo, nos observasse em nosso dia-a-dia. Nossas atitudes, nossas fraquezas, nossos medos. Tudo. Ele com certeza nos acharia covardes, seres-humanos ridículos (pois afinal somos um pouquinho isso, não?), indignos de terem a sorte e a fortuna material que possuem. Sim, pois cinquenta reais é fortuna para um mendigo. Agasalho, cama e banho quente, comida quente na mesa são sim fortuna para um mendigo.

Ele comentaria com os outros mendigos: "Como pessoas com essa fortuna toda sofrem e vivem dessa maneira? São patéticas, fracas e deploráveis."

É claro que isso é apenas uma forma de ver a coisa toda. Mas uma forma muito interessante. É claro que aos olhos de um mendigo, nossas crises existenciais, nossos rompimentos de relacionamento e problemas sociais de qualquer tipo são simplesmente NADA. E por mais que não passemos fome ou frio, sofremos sim. Sofrer é humano, sofrer é degrau de elevação na escala evolutiva. Bem sofrer, para bem viver.

E sim, claro, temos direito de sofrer e ter nossos probleminhas, mesmo que o mendigo desaprove isso. No fundo, ele não deveria nos julgar. Pois ele não sabe o que se passa dentro de nós. São "níveis" de sofrimento. Conforme o ser humano vai evoluindo, os seus focos de sofrimento evoluem com ele. Se no começo sofríamos mais materialmente, com frio e fome, a finalidade daquele sofrimento era uma, nos primórdios da humanidade. Hoje em dia, para a maioria dos seres-humanos, o foco evolucional do sofrimento é outro, um foco menos material e mais moral, digamos. Tudo são fases, e aos poucos o ser-humano vai se aquilatando em todos os setores do sofrimento e das misérias humanas, ao longo das encarnações.

Mas, se temos o direito de sofrer, soframos. E não julguemos as pessoas que se vão cedo, especialmente talentosos ídolos da música, que se vão, estranhamente, aos 27 anos.

Assim como o mendigo não sabe o que se passa dentro de nossa cabeça e do nosso espírito, nós também não sabemos o que se passa na cabeça de cada um. Seja ele famoso ou não, tenha ele 27 ou 57 anos. Nós apenas ACHAMOS que sabemos o que acontece dentro. Achamos que conhecemos todo mundo, quando na realidade não conhecemos nem a nós mesmos. 

Apenas oremos por essas almas tão perturbadas, que nos brindaram com o mau-exemplo, e querendo ou não, nos ensinaram com suas mortes como não agir em vida.

Não sabemos o que conduziu cada um à essa vida de excessos, à todo esse desequilíbrio físico e espiritual. E se não sabemos, devemos respeitar.

O inferno de nós mesmos é somente frequentado por nós mesmos. Apenas. Cada um com seus infernos. Cada um com sua vida. Cada um com sua morte.

Como dissemos acima, todos têm o direito de sofrer, do jeito que for, pelo motivo que for. O mendigo pode sofrer, nós podemos sofrer e a Amy e tantos outros também tiveram seu direito de sofrer, direito esse intransferível que se estende após a morte também. Espiritualmente, a reabilitação dela começou agora. Aproveitemos que ainda temos o nosso corpo físico para evoluirmos ainda em vida, para não precisarmos recuperar todo esse tempo perdido após a morte. Pois o tempo não volta.

Não sejamos o mendigo da parábola acima. Na parábola, somos a Amy. E o mendigo somos nós mesmos.

"Não julgueis para não ser julgado", disse um tal de Jesus Cristo há mais de 2.000 anos atrás.

Morrer aos 27, no fundo, é opção de cada um.

3 comentários:

  1. Como sempre, sensacional no texto.
    Nesta situação e talvez em algumas outras, concordo com vc: 'Apenas oremos por essas almas tão perturbadas, que nos brindaram com o mau-exemplo, e querendo ou não, nos ensinaram com suas mortes como não agir em vida.'

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  2. "O inferno de nós mesmos é somente frequentado por nós mesmos. Apenas. Cada um com seus infernos. Cada um com sua vida. Cada um com sua morte."
    FANTASTIC!!! FALASTE O ESSENCIAL, MY L...

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