Só sei que nada sei, mas ainda insisto em digitar...

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Só sei que o bonde pegarei.

"Vou procurar começar a viver meus ideais de vez. Tudo bem, posso ter ficado maluco. Ou posso ter me tornado são de vez."

"-Sobe aí, brother. -É nóis, maluco!"


Esses dias eu havia acordado desanimado. Ressaca, todo fodido de corpo e de alma. Sabe? Então. 

O dia transcorria conforme a rotina mandava: após ter acordado, aquele almoço delicioso, mas que devido à toda corrosão que você mesmo causou na madrugada anterior em seu aparelho gastro-intestinal, o almoço simplesmente desce com aquele gosto de pilha alcalina. Aí vi luz em alguém. Ouvi o som do silêncio. Assim, do nada. E o desanimado se animou.

E quando estou animado eu simplesmente amo pensar. Eu não amo nem fazer as coisas, pelo menos não ainda. Eu amo pensar. E planejar. Eu idealizo também, mas isso eu não amo, pois acabo por me fuder muitas vezes. Mas tudo bem, nem tudo são flores.

Sabe, sou perfeccionista. Durante toda a minha vida "pensante" pelo menos eu adotei a seguinte postura: de que sou alguém que só apresenta seu trabalho pronto. Sim, algumas pessoas vão fazendo o seu trabalho. Vão, mostram o andamento do trabalho, todo dia produzem um pouco, meticulosamente, numa rotina que simplesmente me ensandeceria. E eis que, aos poucos, dia a dia, o trabalho delas vai tomando forma e se tornando cada dia mais sólido e belo.

E como eu disse, outras simplesmente sabem exatamente o que têm que fazer, mas pelo motivo que for, simplesmente não o fazem. Às vezes inventam desculpas, mas na maioria delas elas realmente acreditam nessas desculpas. Elas procuram feito loucas a ferramenta que elas julgam perfeitas para a realização de tal trabalho. O tempo que elas investiriam em começar a realizar esse trabalho com as ferramentas que elas já tem elas preferem investir na procura da ferramenta perfeita. 

Essa ferramenta perfeita até existe, mas elas simplesmente não sabem se encontrarão a tal ou as tais ferramentas. E aí, algumas dessas pessoas simplesmente desistem de realizar o seu trabalho. Outras entrarão em depressão. Outras se revoltarão. E outras simplesmente morrerão procurando a tal da ferramenta sem ter realizado, no fundo, porra nenhuma.

Pessoas assim como eu são extremamente idealistas. Visualizamos como ninguém o quão lindo é esse trabalho que devemos realizar, e de tão lindo que é, às vezes até assusta. Nos conhecemos tão bem. Como eu, esse frangalho emocional humano, pode sequer cogitar realizar algo assim? Quem sabe um dia...? Hoje com certeza não! Amanhã também não, provavelmente. O tal da procrastinação.

Mas podemos ser apenas lógicos e imaginar que o "hoje" já foi o "ontem". O "amanhã" será um "hoje" também. E aí? 

Então todo esse papo de "hoje não", "amanhã talvez" tem que acabar de vez. Por hoje e sempre. Pois se não nos julgamos capazes hoje, mas nos julgamos hipoteticamente capazes amanhã, ora, que porra é essa? Isso é simplesmente uma hipocrisia. Se você se julga capaz em essência, mas não em forma, você que SE VIRE em achar, consertar ou inventar logo essa porra dessa forma. E a partir de agora!

Esses dias eu conversava com um anjo lindo sobre o "mundo das idéias" conceituado por Platão. Aquele mundo dos arquétipos, modelos perfeitos, "imagens padrão". As imagens primordiais, perfeitas, eternas e imutáveis.

Ou seja, nós, reles mortais, vivemos no "mundo dos sentidos". Aquele mundo que é apenas compreendido por nós através dos cinco sentidos e de conceitos morais já fincados em nosso "eu", assim como as noções de lógica decorrentes da nossa famosa racionalidade humana, o que nos torna "homo sapiens", a espécie dos fodões na Terra (?).

Filosoficamente falando, nós, os fodões, seríamos aqui na Terra (mundo dos sentidos) receptores do que acontece na verdadeira vida (mundo das idéias). Então, por trás do Tayan aqui, existe a "idéia Tayan". É um Tayan perfeito que existe nesse mundo perfeito, que tenta de certa forma, espiritualmente, inconscientemente inspirar o Tayan do mal aqui no Planeta Terra. Tipo aquele lance de "irmão gêmeo do mal do Universo Paralelo". Só que nesse caso, nós, os de carne e osso, que somos os filhos da puta da história. Que vivemos sabotando o coitado perfeito lá do mundo das idéias que no fundo só quer ajudar a gente. Mas beleza.

O que nos torna filhos da puta por excelência é nosso medo ou preguiça em relação à todo esse intercâmbio para com o mundo das idéias. Pois infelizmente, o único meio que o mundo das idéias consegue se comunicar conosco neste mundo aqui é um só, extremamente sensível, confuso e às vezes completamente esquecido, mistificado ou ignorado por todos e por nós mesmos - a intuição.

Pois, afinal, a intuição vai em desacordo lógico com tudo aquilo que nos torna, em "essência", humanos - a lógica e a racionalidade. Sim, ironizei o conceito de essência humana, por isso as aspas. Pois é tão ridiculamente humano restringir um conceito de humanidade apenas em lógica e racionalidade. Quem disse que o ser humano não pode ser também um animal intuitivo, além de lógicos e racionais? Se os próprios animais têm intuição, e nós de certa forma somos "melhores" que eles pois conseguimos racionalizar, porque nós não poderíamos ser, também, intuitivos como eles? Quem pode o mais, não pode o menos?

Mas não, foi o PRÓPRIO ser humano que falou que o ser humano não deve acreditar nessas bobagens que às vezes ele mesmo sente. "É tudo viagem nossa, coisa da nossa cabeça. Impressão. Mesmo se eu sentir, é apenas por um momento. Vago demais, não consigo dominar esse sentimento, nem explicá-lo direito. Então se eu não o domino, muito menos explicá-lo, eu não devo reconhecer que isso faz parte de mim ou do mundo. Irei voltar às minhas contas." Ora, vá tomar no seu cu!

Eu sinceramente reconheço que é muito difícil lidar com lógica, racionalidade E intuição. Sim, é foda. Pois é extremamente paradoxal. Mas essa é a beleza. Desenvolver tudo isso dentro de nós mesmos me parece um lindo desafio, pois imagine só a faculdade que nós, ou as próximas gerações, poderão dispor dentro delas mesmas!

Vamos ser cientistas de nós mesmos. Cientistas e cobaias. Sem medo de nada, de uma vez por todas.

Não podemos cristalizar meros conceitos e opiniões extremamente humanas e criadas por humanos dentro de nós, seres humanos. Nada é a verdade real dentro da gente, nem dentro de ninguém. Nem no que ninguém fala, ou escreve. Isso tudo é relativo, completamente mutável dentro do tempo e do espaço. E sim, temos o direito de pensar, sentir e nos permitir. Se algo é bom e você tem vontade de fazer ou sentir, faça! Independente do que alguém falou. É direito seu. Talvez você se machuque, mais uma vez. Talvez erre. Mas talvez descubra o que ninguém nunca descobriu. Talvez descubra o que você sempre quis descobrir. Talvez o que você precise descobrir. Eu não sei! São tantas possibilidades, e isso é simplesmente maravilhoso!

Já pensou se fôssemos adultos presos a conceitos infantis? Mas graças à humildade e na vontade doentia em que a criança tem de aprender, ela simplesmente arrisca, tenta e aprende. E tem o maior tesão nisso. Ela vive a vida!

Se lança do muro, se arrasta pelo chão. Não tem medo de micróbio, de porra nenhuma. Claro, em suas aventuras ela aprende. Ela sangra, se rala, se fode toda. Já reparou que criança tá sempre toda fodida? Ela chora uns cinco minutos, e lá estava denovo aquela mini pessoa fazendo coisas piores ainda. Isso é simplesmente lindo. Vivendo ali as mentirinhas dela, ao pouco ela vai aprendendo algumas verdadinhas. Tudo sabiamente dosado por ela. Como era bom, cara.

Conforme essa pessoa vai crescendo, aquela criança, de tanto se foder em todos os sentidos, vai desenvolvendo em si um processo de covardia espiritual. Já não se permite mais arriscar, pois como ela se fodeu umas quatro, cinco vezes em certos departamentos, ela "já sabe e já tem certeza" que não deve mais fazer tal coisa, então ela se fecha nela mesma, e aos poucos fecha a cortina para o mundo. É só observar o número de adolescentes que já são completamente babacas e tudo é o fim do mundo pra eles. Eles já sabem de tudo e de todos, já cansaram e já viram de tudo, e não vêem a hora de morrer.

Experiência é simplesmente acumular-se, e não anular-se. Lembre-se sempre disso. Você pode não ter acertado o meio, mas continue buscando aquele fim que grita no seu coração. Você pode não ter encontrado a forma perfeita, mas se ainda existe aquela essência, deixa ela se manifestar denovo, quem sabe dessa vez você não acerta? Vamos parar de fazer essa cara de gatinho triste, ou essa cara de fodão. Paremos de mentir para nós mesmos, e para o mundo. Vamos ser quem nós somos de verdade. Vamos fazer isso por nós mesmos!

Falemos um pouco sobre isso, certo? E foda-se se você estiver cansado de ler. Saiba que eu me cansei bem mais pensando e escrevendo, então vai tomar no seu cu se estiver reclamando mentalmente comigo. Caso não esteja, me perdoe, é que eu sei que tem gente que vai reclamar ou que já está reclamando. Continuemos.

Sermos quem nós somos (e nós quase SEMPRE sabemos quem somos nós no mundo das idéias) lá no mundo das idéias requer vontade e responsabilidade. Nessa exata ordem.

É cômodo pra caralho chamar de "mundo das idéias". É muito cômodo dramatizar sobre tudo e todos. Dramatizar sobre tudo, todos e nós mesmos. Dramatizando nossa humanidade, acomodamo-nos nela própria. Sim, sou humano. Não nego. Mas sinceramente não sou feliz com isso. Sou apenas feliz pelo fato de poder ser algo melhor. Em essência, minha humanidade não me faz feliz em merda nenhuma. Vivo apenas de momentos de felicidade.

Algo que às vezes penso também é que muitos de nós podem acabar tendo medo. Sim, medo. Medo de viver o mundo das idéias no próprio mundo dos sentidos. Já pensou?

Podemos pensar (conscientemente ou não): "Se eu viver as minhas idéias mais perfeitas, o que eu irei almejar então?"

Não assusta pensar assim? Pensar que podemos DE FATO VIVER AS NOSSAS IDÉIAS MAIS NOBRES? Não digo nem "ideal", pois "ideal" é um conceito muito amplo. "Idéias" são coisas mais específicas mesmo. Por exemplo, pode-se ter um ideal de caridade, como erradicar a fome. E a partir desse ideal você desenvolve uma idéia específica, como por exemplo, alistar-se naquele "Médico sem Fronteiras". Ou por exemplo posso ostentar um ideal romântico, mas na idéia eu aceito então amar e respeitar alguém que mereça da forma devida, casando e formando uma família. É o famoso papo de "plasmar idéias". Transferir tudo o que temos de melhor na mente, e torná-lo real aqui na nossa vida de carne e osso. A vida leve, na vida pesada. Meu Deus, pensar nisso? Isso me assusta e desespera ao mesmo tempo! 

Aí chegamos, e vivemos nossos ideais em plenitude. E até sei que sou capaz disso e isso é plenamente possível. Certo, esgotei minhas idéias nobres. Aliás, VIVO minhas idéias nobres hoje em dia. Ok. E agora? Eis que surge um branco. Branco tão branco que cega, e assusta. Aliás, sei lá, apenas imagino o que seja. Pois meu mundo das idéias existe todo lá, eu nem sequer comecei a tentar e vivê-lo, quiçá esgotá-lo. Mas sou tão ridículo, patético e covarde nesse sentido que meu medo é apenas de COGITAR que isso um dia aconteça.

É um horizonte que eu sei que vai se expandir à minha frente, de uma forma que meu cérebro nem pode conceber, eu acho. Como serão nossos novos ideais quando os velhos (ou seja, os nossos atuais) ideais tiverem sido preenchidos através da plena vivência dos mesmos, degustados e vividos em nossa própria vida, experiência pessoal?

Sinceramente não sei e não faço a mínima idéia de como isso seja. Como falei, a mera COGITAÇÃO me assusta em relação à isso. 

Percebi então que tenho ainda minha mente bloqueada pelas minhas próprias idéias, mas as idéias ruins. Bloqueada por conceitos de lógica e racionalidade que quase sempre elejo como os mais corretos, mais humanos. Os vícios de toda ordem que acumulei nessa existência e nas outras quase sempre soterram tudo o que pode (e deve) eclodir de bom em mim, essas virtudes que tanto almejo viver. O "Tayan mau" não deixa o "Tayan bom" vir à tona.

Mas sinceramente percebi também que já ando cansado de tudo isso, e gostaria de compartilhar com vocês que a partir de agora eu vou aplicar a força que ainda me resta será usada para fazer tudo isso que eu disse acima que ainda não fiz. E acho que vocês também deveriam fazer o mesmo.

Mudança! Não radical, à princípio. Mas mudança.

Vou procurar começar a viver meus ideais de vez. Tudo bem, posso ter ficado maluco. Ou posso ter me tornado são de vez.

O caminho que eu estava (estou) já me parece esgotado, pelas experiências mil que eu mesmo quis e me predispus a viver. Sim, não me arrependo de absolutamente nada, afinal eu sou o resultado da soma de todas as minhas próprias experiências nessa existência. Mas me parece, de uma forma muito forte, que ficar nesse caminho será estagnar de vez, pelo menos nessa vida.

Estou cansado. Exausto!

Vou pegar o bonde da mudança. Tenho a sensação de que se eu não pegar esse bonde agora, talvez eu não pegue mais bonde nenhum nessa vida. Algo me diz que esse é o último que vai passar pra mim. Agora é a hora!

Sabe, vou arriscar e ver o que esse tal de caminho virtuoso e responsável tem a me oferecer. Porra, o "mundo das idéias" é tão lindo e feliz. Pra que continuar adiando isso? Me sinto ridículo nessa altura do campeonato. Ridículo, e nervoso, com frio na barriga! Ousado e otimista também. Afinal, é uma jornada e tanto não?

Eu já quis. Eu quero. Agora, que seja também o que Deus quiser.

Ei, escute. O barulho. Olha lá, é o bonde! Tchau, estou indo.

Alguém quer ir comigo?

Um comentário:

  1. meu querido, eu de verdade espero que o bonde te leve até o caminho mais excelente. pessoas como você merecem o prêmio no fim da jornada e não ficar lá atrás, no fim da fila, enquanto todos os bondes passam e vão embora...

    benditos ventos da mudança. e vamo que vamo!!

    ResponderExcluir